História de Portugal:
Os “meus” 10 Grandes Homens
Devido ao sucesso de minha última crónica sobre as “minhas” 10 Grandes Mulheres da História de Portugal, vou continuar na senda das listagens, fazendo sobre os “meus” 10 Grandes Homens. A apresentação da lista vai seguir novamente o mesmo modelo, o da ordem cronológica. Vou debruçar-me sobre os Homens que mais marcaram o seu tempo, concordando ou não com todas as suas decisões. Vou também arriscar num nome que será polémico, pois muitos não aceitam a portugalidade do seu nascimento, contudo seguindo as fontes históricas, eu sou um defensor que é português.
1. D. Afonso Henriques - o Conquistador
É difícil falar da vida do primeiro Rei de Portugal, pois a aura de mistério e lenda cerca a sua imagem. Sabemos que foi um grande “Conquistador”, conseguindo criar Portugal e fazer crescer as suas fronteiras.
Nascido em 1109, segundo a lenda aos 14 anos armou-se a si próprio cavaleiro. Em 1128, na famosa Batalha de S. Mamede, D. Afonso Henrique venceu as tropas de D. Teresa. Aí nasceu aquela que é uma das mais conhecidas lendas da nossa nacionalidade. Segundo esta, D. Afonso Henriques terá batido em sua mãe, prendendo-a no Castelo de Lanhoso. D. Teresa, revoltada com a atitude do filho, lançou-lhe uma maldição. Em 1169, durante o cerco de Badajoz, D. Afonso Henriques, ao fugir do Castelo, feriu-se na coxa com os ferros que guarneciam a entrada, tendo ficado prisioneiro do genro e Rei de Leão. O povo não se esqueceu e clamou: era a maldição da mãe a cair sobre o filho!
O 5 de outubro de 1143 foi assinado o Tratado de Zamora, nascia, então, Portugal. Contudo o Papa Alexandre III só reconheceu a independência de Portugal em 1179, com a Bula Manifestis Probatum. O nosso primeiro Rei fez grandes conquistas, sobretudo em detrimento dos mouros. Morreu em 1185. D. Afonso Henriques deixou para o seu filho, D. Sancho I, uma nação forte e em crescimento.
2. Infante D. Henrique - o Navegador
Nasceu no Porto em 1394. Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. D. Henrique foi armado cavaleiro com 21 anos. Feito então duque de Viseu e senhor da Covilhã. Em 1417 participou com o pai e os irmãos na Conquista de Ceuta, ponto de partida para os Descobrimentos. O infante D. Henrique fundou uma vila no promontório de Sagres, para onde foi viver, a Vila do Infante. A expansão europeia dava os seus primeiros passos, com o Infante a subsidiar e a apoiar ao máximo os Descobrimentos. Madeira, Açores e por aí adiante, Portugal dava mundos ao Mundo. O Infante ganhava o cognome do Navegador. D. Henrique foi ainda Grão-mestre da ordem de Cristo, fronteiro-mor de Leiria, cavaleiro da ordem da Jarreteira, de Inglaterra, senhor da Covilhã, de Lagos e de Sagres, do Algarve, de cujo reino foi governador perpétuo. Morreu na sua Vila, em Sagres, estávamos a 13 de novembro de 1460 e Portugal já explorava África até onde hoje é a Serra Leoa.
3. Cristóvão Cólon, o Português que descobriu a América
Esta será porventura a minha escolha mais polémica, mas como defendo a portugalidade de Cristóvão, ele figura na minha lista dos maiores portugueses.
Nome envolto em mistério, uma certeza há, Cólon descobriu a América a 12 de outubro de 1492. Cólon (Colombo) é a sigla adotada por Salvador Fernandes Zarco, que nasceu em Cuba, no Alentejo, filho de D. Isabel, filha de João Gonçalves Zarco, descobridor e povoador da Madeira e do Duque de Beja, tio de D. João II. Cólon era, portanto, primo do Rei de Portugal. Assim, Cólon teve, desde muito novo, acesso ao conhecimento de náutica, dos mares, das rotas e dos descobrimentos, além de acesso a uma educação excecional, o que lhe dava condições, para liderar a empresa da descoberta americana.
D. João II, que queria afastar os Reis espanhóis do caminho marítimo para a Índia, e que tinha uma boa e eficaz rede de espiões, que atingia todos as capitais importantes e pontos nevrálgicos do Mundo da época, precisava de alguém de categoria que convencesse os Reis Católicos a abdicarem de abrir o caminho para a Índia, através do continente africano, e que lhes apresentasse outra rota, ir para o Oriente pelo Ocidente, sem a necessidade de contornar África. D. João II, depois de muito analisar, confiou esta nobre e importante missão a alguém de sua inteira confiança, ao seu primo Salvador Fernandes Zarco. Este estava ligado à Ordem de Cristo, conhecia bem os mares e mantinha ligações com os banqueiros de Génova e, como tal, insinuou-se genovês, ocultando o nome da terra onde nascera e o dos próprios pais, criando um pseudónimo, Cristófõm Cólon e um nova identidade, podendo, assim, infiltrar-se, como queria o Rei português, no círculo pessoal dos Reis Católicos e desviá-los da rota marítima oriental.
Com a criação da sigla, Cólon conseguiu perpetuar para a História, um dos maiores mistérios daquele tempo: quem foi Colombo?
4. D. João II - o Príncipe Perfeito
Filho de D. Afonso V e de D. Isabel de Avis, D. João II nasceu em Lisboa, a 3 de maio de 1455 e é uma das figuras mais amadas e odiadas da nossa História. Centralizou o poder em si, retirando-o à nobreza, o que levou ao aparecimento de várias conspirações para tirá-lo do trono. Fernando II, duque de Bragança foi acusado de traição e preso pelo próprio D. João II e condenado à morte. Também o duque de Viseu, D. Diogo, seu primo e cunhado, se preparava para matar o Rei, foi então descoberto e morto pelo próprio D. João II. Tudo isso devido a uma excelente rede de espiões que o Rei possuía, que como dito anteriormente, atingia vários pontos da Europa.
Político preparado e experiente, deve-se a D. João II o avanço da expansão. Durante o seu reinado, Diogo Cão descobriu a foz do Rio Congo e explorou a costa da Namíbia (1484), assim como em 1488 Bartolomeu Dias cruzou o Cabo da Boa Esperança, tornando-se no primeiro europeu a navegar no Oceano Índico vindo de oeste e abrindo-se portas para a descoberta do caminho marítimo para a Índia. D. João II assinou com os Reis católicos o Tratado de Tordesilhas (1494), que definia como linha de demarcação o meridiano 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, assim os territórios descobertos a leste deste meridiano pertenciam a Portugal e os territórios a oeste, à Espanha. A escolha deste meridiano pressupõe que o Rei já saberia da existência do Brasil, o que é provável devido aos segredos que D. João II guardou de forma a preservar a liderança portuguesa nos Descobrimentos. Morreu em 1495, sem descendente legítimo, foi então sucedido pelo primo e cunhado, D. Manuel, a quem tinha morto o irmão D. Diogo.
5. Bento de Góis - o Marco Pólo português
De seu verdadeiro nome Luís Gonçalves, foi batizado em Vila Franca do Campo, em S. Miguel, a 9 de agosto de 1562. Aos 20 anos já era soldado, tendo partido para a Índia em 1583.
De acordo com a tradição, levava uma vida boémia até ter tido uma visão, numa igreja da aldeia de Colachel (província de Travancor), decidindo então ingressar na Companhia de Jesus. Em 1586 viajou pela Pérsia, Arábia, Baluchistão, Sri Lanka outros reinos da Ásia. Em 1588 regressou a Goa, ao Colégio dos Jesuítas, e mudou o seu nome para Bento de Góis, pelo que é conhecido. Iniciando um período o qual fez variadíssimas viagens. Tornou-se assim no primeiro europeu a percorrer o caminho terrestre da Índia para a China, através da Ásia Central. A sua viagem é considerada uma das maiores explorações feitas pelo homem.
6. D. João V - o Magnânimo
Nascido a 22 de Outubro de 1689, filho de D. Pedro II e de D. Maria Sofia de Neubourg, o Magnânino foi aclamado rei a 1 de janeiro de 1707. Depois de uma má experiência no início do reinado (Guerra da Sucessão de Espanha), vai manter-se afastado dos problemas internacionais, e assim fará, exceto em 1715-16, a pedido do Papa Clemente XI, na luta contra os Otomanos.
Conhecido por manter uma relação complexa com Igreja Católica, foi com D. João V que o Absolutismo atingiu o apogeu em Portugal, assim como o Barroco. Importa referir que as jazidas de ouro do Brasil estavam na sua exploração máxima, por isso, a Portugal afluía imensas toneladas de ouro.
Foi no reinado de D. João V que se construiu o Palácio e Convento de Mafra, o maior exemplo do Barroco em Portugal, com uma das melhores bibliotecas do Mundo, além de 2 carrilhões, com 92 sinos, que pesavam mais de 200 toneladas e eram os maiores e melhores do Mundo à época. O Rei remodelou e aumentou ainda a Capela Real e conseguiu a divisão de Lisboa em duas, a cidade metropolitana (Lisboa Oriental) e a Sé Patriarcal (Lisboa Ocidental). Com estas obras, o Rei engrandecia o país, mas arrasava os cofres do Reino. Construiu ainda o Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa, abastecendo a capital. Em 1748, D. João V conseguiu que o Papa Bento XIV lhe concedesse o título de Rei Fidelíssimo para si e para os seus descendentes e pôs, assim, Portugal ao mesmo nível das mais importantes nações europeias. Quando morreu, em 1750, D. João V havia gasto quase todo o ouro que vinha do Brasil, mas conseguira a paridade para Portugal.
7. Sebastião José de Carvalho e Melo - o Marquês de Pombal
Figura controversa da História de Portugal. Nasceu a 13 de maio de 1699.
Em 1755, D. José I convidou Pombal para Secretário de Estado do Reino. A 1 de novembro de 1755 quando Lisboa foi arrasada por um Terramoto, Pombal surgiu como o homem pragmático, que tratou da reconstrução de Lisboa. Pombal decidiu que era urgente, enterrar os mortos e cuidar dos vivos, uma medida vital para “resgatar” o país. Com este sucesso, Pombal recebeu do Rei plenos poderes para o governo do país. Pombal tratou de recuperar o atraso de Portugal em relação ao resto da Europa. Criou as companhias monopolistas controladas pelo Estado e a primeira região demarcada do vinho, no Douro. Deve-se a Pombal a instalação de novas indústrias no país, mas também a perseguição à alta nobreza, sendo o exemplo dos Távoras o mais conhecido. Conseguiu ainda a expulsão dos jesuítas de Portugal e depois do resto da Europa, sendo um dos portugueses mais estudados no estrangeiro.
Até 1777, Pombal será a mais importante figura política de Portugal, contudo com a morte do Rei, perdeu os seus poderes e foi proibido de estar a menos de 20 milhas de Lisboa, pois as relações com a nova Rainha, D. Maria I, não eram as melhores.
Morreu em Pombal, a 8 de maio de 1782. Durante mais de 20 anos foi o verdadeiro governante do país.
8. Luís António de Verney - o Professor
Nascido em Lisboa, em 1713, Verney era filho de pai francês e de mãe portuguesa e estudou no Colégio de Santo Antão e na reformadora Congregação do Oratório até se formar em Teologia na Universidade de Évora. Partiu, então, para Roma, onde fez o doutoramento em Teologia e Jurisprudência.
A pedido de D. João V, Verney iniciou a sua colaboração com a Reforma pedagógica de Portugal, contribuindo indelevelmente para uma aproximação profícua com os ventos do progresso cultural que animavam os espíritos iluministas dos europeus mais progressistas.
Em 1746, escreveu "O Verdadeiro Método de Estudar", uma verdadeira reforma do ensino. Aconselhava que se estudasse a gramática do Português, como se estudava a gramática do Latim. E recomendava que se pusesse de parte o vocabulário obsoleto, antiquado, e se passasse a usar na escrita palavras do português corrente.
Com a chegada de Pombal ao poder, acabou por ser afastado, emigrando para Roma, onde veio a falecer em 1792.
9. Aristides de Sousa Mendes - o Cônsul injustiçado
Nasceu a 19 de julho de 1885, em Cabanas de Viriato no Carregal do Sal.
Entrou para a História durante a II Guerra Mundial, quando ajudou à fuga de milhares de judeus. Desrespeitando ordens de Salazar, Aristides passou, entre os dias 20 e 23 de junho de 1940, com a ajuda da família e dalguns colaboradores, mais de 30 mil vistos, sendo 10 mil param judeus. Com o armistício francês a 22 de junho de 1940 e a pressão do Governo português, Aristides saiu de França, mas no percurso para Espanha, continuou a passar vistos a todos aqueles que pediram ajuda.
Na chegada a Lisboa, Aristides foi privado, por um ano, de exercer as funções de diplomata, sendo o seu salário reduzido a metade e, ao fim daquele ano, foi enviado para a reforma, com ¼ do salário, ou seja, Aristides começou a passar necessidades, pois era chefe de uma família numerosa. A comunidade judaica de Lisboa foi o seu apoio e alento durante estes anos, tendo os filhos dele, partido para o estrangeiro e feito carreira por lá.
O “Cônsul injustiçado” morreu a 3 de Abril de 1954, na mais absoluta miséria. Em 1967, Aristides passou a ser o único português a fazer parte dos Righteous Among the Nations (Justo entre as Nações), no Yad Vashem Memorial em Israel, além de ter uma floresta com seu nome no estado israelita com 10 mil árvores, o número de judeus que salvou. É um dos portugueses mais conhecidos no estrangeiro.
P.S. Sugiro visitarem o Facebook da Sousa Mendes Foundation nos EUA - https://www.facebook.com/sousamendesfoundation
10. Humberto Delgado - o General Sem Medo
Nasceu a 15 de maio de 1906, em Torres Novas. Aos 11 anos, em 1917, entrou para o Colégio Militar e, em 1922, para a Escola do Exército, onde se formou em Artilharia, três anos depois. Em 28 de maio de 1926, participou no golpe militar que pôs fim à I República, optando depois por uma carreira na Aeronáutica. A aptidão de Delgado para a aviação, fê-lo bater o recorde de duração de voo sobre território português.
Humberto Delgado foi, também, um dos grandes responsáveis do Acordo dos Açores (17 de Agosto de 1943), tendo sido o “pai-político” da Base das Lajes. Delgado, a pedido dos britânicos, elaborou o Blue Report (1941), um relatório, no qual analisava as características naturais e físicas dos Açores, em caso de invasão nazi e possível transferência do Governo para o arquipélago. E posteriormente foi o responsável pelas obras da pista e suas sucessivas ampliações. Tornou-se assim o Homem dos Açores.
Em 1944, Delgado foi nomeado Diretor do Secretariado de Aviação Civil, tendo fundado, por isso, os Transportes Aéreos Portugueses (TAP). Entre 1947 e 1950, Delgado foi representante de Portugal na Organização Internacional da Aviação Civil, no Canadá, e chegou a chefiar a Missão Militar à Alemanha, no quadro da NATO. Criou a Força Aérea Portuguesa. Foi ainda adido militar na Embaixada de Portugal em Washington e membro do Comité dos Representantes Militares da NATO. Foi, então, promovido a general com 47 anos, sendo o mais novo oficial daquela patente.
Humberto Delgado regressou a Portugal, onde foi nomeado Diretor-Geral da Aeronáutica Civil. Em 1958, candidatou-se às eleições presidenciais e durante a campanha afirmou que demitia Salazar. O Estado Novo tremeu e Delgado foi obrigado a exilar-se. Delgado foi assassinado pela PIDE a 13 de fevereiro de 1965.
Todos estes homens deram um forte contributo para o avanço do país, não tendo medo de enfrentar os problemas. Atualmente Portugal tem de reerguer-se e continuar a batalhar por um país melhor, onde os cidadãos têm os seus direitos defendidos, onde haja respeito pelas diferenças e sobretudo, haja força e garra para combater para continuarmos a ser um país de princípios e valores democráticos, de liberdade e de igualdade. É necessário superar a onda cultural proveniente da incompetência da governação da atual República.
É preciso viver o passado para construir o futuro!
Francisco Miguel Nogueira
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