(imagem retirada da internet)
Aqui o nariz é sempre chamado
O olfacto é o mais sensível dos cinco sentidos. Mas são a audição e a visão que assumem «um lugar prioritário na sociedade dominada pela imagem e pelo audiovisual», diz José Saraiva, coordenador da Unidade de Otorrinolaringologia do Hospital CUF Descobertas. O médico diz que o olfacto «é fundamental para dar informações de locais e das pessoas que nos rodeiam». Basta pensar no prazer que trazem os aromas relacionados com momentos agradáveis para perceber que «as memórias integram fragrâncias familiares, que podem estar tão presentes quanto as vivências a que se referem», acrescenta o otorrino. Na alimentação, o olfacto funciona como estímulo para a escolha de determinada refeição, pela sua relação directa com o paladar: «Se não se conseguir cheirar a comida, esta deixa de ter grande parte do seu sabor e pode perder-se o prazer e o interesse pela refeição». Cheirar também pode ser uma fonte de bem-estar – é esta a definição mais simples de aromaterapia, que consiste em melhorar ou curar problemas de saúde através do inalação de óleos essenciais.
De acordo com Raquel Costa, presidente da Associação Portuguesa de Aromaterapia (APA), «os aromas entram imediatamente no cérebro emocional, criando sensações, emoções e recordações». Existem cerca de 200 óleos com propriedades terapêuticas diversas. Esta terapia funciona por inalação – «as moléculas gasosas do óleo essencial são absorvidas pelo muco nasal, criando impulsos pelos nervos olfactivos até ao cérebro» –, através da aplicação na pele ou por ingestão. Por exemplo, a essência de toranja, ao ser inalada, tem propriedades relaxantes, «porque interage com as supra-renais estimulando a libertação de serotonina». Com a aplicação na pele, através de massagem, os óleos essenciais podem tratar problemas dermatológicos, musculares, articulares, respiratórias, emocionais e até mesmo proteger a pele de efeitos radioactivos. O uso de óleos serve essencialmente como terapia de prevenção, mas também pode ter uma acção ao nível dos sintomas. Por exemplo, o óleo essencial de hortelã-pimenta «quando colocado directamente sobre a pele, na área temporal, pode tratar dores de cabeça», afirma a terapeuta. E acrescenta que também é utilizado «para a má digestão, para o tratamento do refluxo esofágico, baixar a febre, tratar um entorse ou aliviar picadas de insecto ou sintomas de pernas pesadas». Porém, é preciso saber quais os óleos que permitem uma aplicação tópica: «Salvo algumas excepções, os óleos essenciais não devem ser utilizados puros sobre a pele, mas sim diluídos».
Quando se perde, a recuperação é difícil
O alcance olfactivo penetra no cérebro, dividindo-o em três áreas. Uma delas afecta as nossas respostas mais primitivas, como lamber os lábios e salivar. Por exemplo, ao inalar-se o óleo essencial de mentha spicata desenvolve-se o estímulo de trincar, porque este aroma entra imediatamente na saliva. A segunda divisão é responsável por gostar ou não dos alimentos, com base na experiência, provocando aversão ao que já causou náuseas. Se se tem na memória algum aroma associado a um episódio de mal-estar, ao inalá-lo a pessoa relembra-se do sentimento desagradável. A terceira área é a percepção consciente do olfacto; através do aroma de um óleo é-se capaz de identificar a sua planta. Com a aromaterapia, Raquel Costa acredita ser também possível «a libertação de traumas reprimidos, ou traumas inconscientes vividos até mesmo na barriga da mãe». José Saraiva não vai tão longe, mas realça que o olfacto tem uma relação estreita com a memória. Nos doentes de Alzheimer, a sua perda pode ser o primeiro sintoma e trata-se de um elemento para avaliar a evolução da doença: «Por isso se investiga a possibilidade de a mucosa olfactiva poder vir a ser estudada como marcador precoce de doenças degenerativas».
Há também outras causas para a anosmia – perda total do olfacto – ou a hiposmia – diminuição da capacidade de detectar odores. No caso das pessoas que sofrem uma perda total e definitiva do olfacto, «a recuperação é muito difícil» e torna-se necessário desenvolver estratégias de adaptação «para lidar com situações potencialmente perigosas como as fugas de gás, o cheiro a queimado ou a comida estragada», alerta o otorrino. Apesar de não haver números acerca de Portugal, um estudo efectuado nos Estados Unidos aponta para a existência de «cerca de 14 milhões de norte-americanos com problemas olfactivos crónicos», e há um agravamento do problema com o envelhecimento. «Estudos mostram que 50% da população entre os 65 e os 80 anos apresenta uma significativa diminuição da capacidade olfactiva, número que atinge os 75% na população acima dos 80», afirma o médico. Por outro lado, um ‘nariz treinado’ como o de um mestre de perfumaria é capaz de distinguir «algo como dez mil odores». Já um escanção, diz José Saraiva, «pode dizer o grau de álcool de um vinho, o ano de produção e as variedades de uvas que entram na sua composição, apenas através do cheiro». Além de um bom nariz é preciso muito treino.
Escrito por Joana Ludovice de Andrade
Créditos: Sol/Vida
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