D. Henrique, o Cardeal-Rei
A 31 de Janeiro de 1512 nascia D. Henrique (comemora-se agora o 5º Centenário), filho de D. Manuel I e de D. Maria de Castelo, no mesmo dia, 68 anos depois, morria, em Almeirim. Durante o seu curto reinado, procurou resolver a sucessão, mas sem grande sucesso, entrando para a História de Portugal, como o Rei que adiou, por pouco tempo, a junção das Coroas ibéricas.
D. Henrique entrou cedo para a vida religiosa, no intuito de promover os interesses portugueses na Igreja Católica. D. Henrique foi feito Arcebispo de Braga, depois Arcebispo de Évora e, por fim, Arcebispo de Lisboa, contudo o seu principal cargo foi o de primeiro Inquisidor Geral do Reino. Em 1546, foi feito Cardeal, tendo participado em vários Conclaves, tendo sido, em 1555, um dos papabili (um dos favoritos para ser o novo Papa). D. Henrique foi responsável pela vinda da ordem dos Jesuítas para Portugal, tendo utilizado os seus serviços no Império Colonial.
Quando D. João III morreu em 1557, o neto e sucessor, D. Sebastião, tinha apenas 3 anos, por isso, a rainha D. Catarina, esposa do recém-falecido, foi escolhida como Regente. D. Catarina era tia de Filipe II, o que causava algum mal-estar junto de vários Nobres, que preferiam D. Henrique, irmão de D. João III, portanto tio-avô de D. Sebastião, pois não viam com bons olhos a interferência espanhola em assuntos nacionais.
Em 1562, D. Henrique tornou-se Regente de Portugal, afastando a cunhada e ganhando a antipatia de Filipe II, que também era seu sobrinho. Durante a sua regência, destacou-se a política económica e administrativa, procurando melhorar o real funcionamento do Império Português.
D. Sebastião, em 1568, atingiu a maioridade e tornou-se Rei de Portugal, de facto. O Cardeal voltou aos seus afazeres religiosos e apenas 10 anos depois, após a desastrosa batalha de Alcácer-Quibir, D. Henrique viu a sua vida mudar radicalmente, era o “novo” Rei de Portugal. Sem herdeiros, nem esperança de os ter, D. Henrique viveu os últimos anos da sua vida numa inquietação constante.
Em 1578, quando se tornou Rei, o Cardeal D. Henrique teve como primeira medida a de resolver o resgate dos muitos cativos de Alcácer-Quibir. A situação não era a melhor e a idade não ajudava o Cardeal. Com a pressão nacional e internacional, D. Henrique renunciou ao seu cargo religioso e pediu dispensa dos seus votos, queria casar ainda. Contudo, o Papa Gregório XIII, próximo de Filipe II, não o libertou dos votos. Era do interesse espanhol unir as Coroas ibéricas. A política de casamentos entre os Reis ibéricos era uma forma de tentarem unir os vários tronos sob a égide de um só monarca. Portugal pretendia juntar também os vários reinos, mas sob a sua Coroa, mas acabou preso na sua própria teia, sendo “unido” a Espanha.
Durante os meses seguintes, o Rei procurou resolver o problema da sucessão. Havia três principais herdeiros, D. Catarina de Bragança, Filipe II de Espanha e D. António, Prior do Crato. O Cardeal D. Henrique recusou nomear D. António como sucessor, pois a relação de ambos não era a melhor. Foram organizadas as Cortes de Almeirim para encontrar o herdeiro para o trono português, mas D. Henrique morreu, no dia que comemoraria 68 anos, a 31 de Janeiro de 1580, durante as Cortes, sem ter encontrado solução para o problema, apesar de ter nomeado uma Junta de Cinco Governadores para a Regência, formada pelo Arcebispo de Lisboa (D. Jorge de Almeida), D. João Telo, D. Francisco de Sá Meneses, D. Diogo Lopes de Sousa e D. João de Mascarenhas.
O Cardeal D. Henrique não conseguiu resolver o problema sucessório nacional. O seu curto reinado foi marcado por uma angústia da perda de independência de Portugal, o que acabou acontecer. D. Henrique, sem nunca se decidir, abriu uma nova página da História nacional, a União Ibérica. A imagem do indeciso, próximo dos espanhóis, acabou por ganhar força, apesar de saber-se, actualmente, que a relação de ambos não era muito boa.
Hoje em dia, vemos vários governantes a imiscuírem-se das suas responsabilidades, não assumindo as suas políticas, escondendo-se atrás da Troika e da crise. Outros, procurando afirmar-se, esquecem-se dos seus concidadãos, não estando preocupados com o seu povo, nem com os seus problemas.
Os protagonistas de hoje são outros, mas a falta de orientação política, convicção decisória e cidadania, são as mesmas, após os 500 anos do nascimento de D. Henrique. Portugal não aprendeu nada durante o percurso histórico.
Gostava de reiterar - é preciso viver o passado para construir o futuro!
Francisco Miguel Nogueira
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