sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro!

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O Liberalismo em Portugal – o início

O Liberalismo foi uma corrente política que surgiu em meados do século XVIII, fruto do Iluminismo. Os liberais defendiam uma menor intervenção do Estado na economia e na sociedade, o livre-cambismo, a liberdade de comércio e os direitos individuais. 

O Liberalismo chegou ao nosso país, nos inícios do século XIX, devido à crise do Absolutismo, à manutenção da preponderância social da nobreza, ao poder “absoluto” do Rei, à propagação da ideologia revolucionária francesa (sobretudo com as Invasões Francesas – 1807/1810) e à débil economia portuguesa. 

A 24 de Agosto de 1820, começava a Revolução Liberal, no Porto, que pretendia a realização de eleições para escolher as Cortes que deviam elaborar uma Constituição baseada nos ideais iluministas, ou seja, Liberal. A primeira Constituição portuguesa data de 1822 (vintista) e proclamava a divisão dos poderes, a soberania popular, o respeito pelas liberdades do cidadão e o fim dos privilégios do Clero e da Nobreza. Portugal deixava, assim, de ser uma Monarquia Absoluta para ser uma Monarquia Constitucional. 

D. João VI morreu em 1826 e D. Pedro, filho primogénito do Rei, tornava-se D. Pedro IV de Portugal e outorgava ao país uma Carta Constitucional (de 1826), reiterando o Liberalismo, mas dando ao Rei um poder moderador que antes não tinha. Contudo D. Pedro, que já Imperador do Brasil, abdicou do trono em nome de sua filha. D. Maria da Glória, na altura com 7 anos de idade e entregou ao irmão D. Miguel a regência até à maioridade da filha, que depois se casaria com o tio. Em 1828, D. Miguel proclamou-se Rei Absolutista, esquecendo o que prometera. O Liberalismo caía. 

D. Miguel vai ganhando apoios, mas os liberais não desistiram de lutar pelos seus objectivos, apesar de somente a Ilha Terceira ter-se mantido leal à causa liberal e, por isso, ter-se tornado no único baluarte da luta contra o Absolutismo régio, ou como disse Alexandre Herculano, no “rochedo da salvação” de Portugal. Para a Terceira, foram imensos Liberais que, auxiliados e protegidos por uma boa linha de fortes, defenderam a Ilha, mas sobretudo o Liberalismo. 

D. Pedro, após abdicar do trono brasileiro, veio para Portugal para defender os direitos da filha, assim, após um périplo pela Europa em busca de apoios à causa liberal, vem para a Terceira, onde chegou 3 de Março de 1832, com o objectivo de preparar a ofensiva aos miguelistas. Foi pelo Nordeste que os liberais atacaram S. Miguel, dominando Ponta Delgada e, consequentemente, a Ilha. Aos poucos, todo o arquipélago aderiu ao Liberalismo. Foi organizado, então, um exército de 7 500 homens, os “bravos do Mindelo”, liderados por D. Pedro, que desembarcaram no continente português e recuperaram a coroa para D. Maria II, em 1834. D. Miguel foi obrigado ao exílio e o Liberalismo foi finalmente implantado no nosso país. 

Com o passar do tempo, o Liberalismo deu espaço a outras correntes, mas actualmente a globalização fez surgir um “descendente”, o Neoliberalismo. Este também defende a mínima participação do Estado na economia e favorece o aparecimento das multinacionais, que procuram o menor investimento e o máximo de lucro. As multinacionais estão a fechar a sua produção em países onde a mão-de-obra é mais cara e a abri-la onde ela é barata, ou seja, criando mais desemprego e um fosso social cada vez maior. 

Os princípios da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade", estão a ser “comidos” pelo capitalismo. Nesta era de globalização, onde uma informação corre o mundo em apenas alguns segundos, o Homem volta a ser uma peça descartável, sendo obrigado a sujeitar-se à perda de direitos, como a greve, a contestação, a solidariedade, para poder manter a sua vida. A privatização é uma constante no Neoliberalismo. Exactamente o que acontece hoje em Portugal, bem como na maioria dos países europeus, ameaçando mesmo desagregar a União Europeia… 

É preciso viver o passado para construir o futuro! 
Francisco Miguel Nogueira 

P.S. Esta crónica estará em destaque aqui blogue para dar oportunidade de todos os visitantes de darem a sua opinião sobre a mesma. A sua opinião é importante, PARTICIPE!

MEIO CRESCENTE - Ideias em movimento!

13 comentários:

  1. Liberalismo e liberalismo económico, partiram de um ideário cheio de boas intenções, mas degenerou numa forma de capitalismo desumano, bem mais ao estilo da Rev indústrial e do operariado miserável e quase escravo, q deu o mote ao surgiment...o das crenças comunistas, com vista a restituir o poder ao proletariado e ao dominio de todas as áreas da vida pública e até privada pelo Estado... Questiono me agora q caminho levaremos, q radicalismos poderão surgir ou já estão em curso neste desgoverno global e q "pregador da salvação" nos levará pelos maus caminhos outrora feitos e refeitos e nunca apreendidos pela humanidade, como foi disso exemplo mais recente a I e II GM! Portugal deve mt aos terceirenses, mt especialmente nesse capitulo por ti nomeado, da resistencia e luta pela restituição da Monarquia Constitucional e o fim do absolutismo régio... Mas esse exemplo terá de ser tido em conta em comparação com os nossos dias, afinal a bravura q levou pouco mais de 7mil homens a lutar por um ideal e vencer o inimigo é a mesma coragem q nos falta a todos p enfrentar de forma enérgica, um mal q nos mina a cada dia q passa e q recolhe adeptos... Pois erros crassos estão se a cometer em toda a frente de estratégia global para a economia e p a balança de poderes, jogando se um xadrês perigoso de interesses individuais e dos Estados e ñ se vendo novamente, c clareza, q isto nos poderá levar à Guerra global de outros tempos, mas c outro nível de consequências.....

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  2. António Pedro Pereira13 de janeiro de 2012 às 15:22

    Falta espírito de combate e de luta aos portugueses. Não podemos fugir dos nossos deveres de combate e das "lutas".

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  3. Parabéns meu amigo por dares a conhecer mais da nossa História, que é tão rica e de dares conhecer mais de ti, sinto cada vez mais a tua essência em cada palavra que escreves, em cada entoação que dás. Estás de parabéns.

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  4. Catarina Bettencourt Rodrigues13 de janeiro de 2012 às 15:59

    Oh Francisco não me parece que o Homem seja uma peça descartável, e as greves e as constetações são prova de que não perdemos direitos. E se há coisa mais bonita que prova que nem tudo é assim é tão negro é como tu próprio dizes, a capacidade de o Homem ser solidário :

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  5. Tal como em 1828 continuamos a ser muito bons em "esquecer promessas", na verdade desde o tempo do Miguelito que se fazia politica defendendo sempre e em primeiro lugar os interesses pessoais ou do caso do "Reino" que poderia se chamar "Estado", visto termos ficado como que viciados em corrupção. Aprendemos depressa e bem a dominar a retórica e os cada vez menos e escassos valores morais e éticos que se vão praticando em nome de um Estado dito democrático...Será?
    Parabéns pela crónica. Sempre brilhante na comunicação e nos conteúdos.

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  6. É bom relembrar que a Terceira foi o único ponto que defendeu o Liberalismo. Como já disse, o sangue dos Bravos está em todos os terceirenses e espero que agora em todos os portugueses.

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  7. O liberalismo de 1828 não tem o mesmo significado que agora.

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    1. Como sou Terceirense, não poderia deixar de comentar a esta crónica! Apresentas aqui umas das minhas passagens históricas preferidas (como bem sabes :)) , pois mostra que um dia fomos capazes de ser audazes ! Infelizmente na actualidade, e como bem referes, afrouxamo-nos simplesmente em aceitar a perda dos nossos direitos!

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    2. Como sou Terceirense, não poderia deixar de comentar a esta crónica! Apresentas aqui umas das minhas passagens históricas preferidas (como bem sabes :)) , pois mostra que um dia fomos capazes de ser audazes ! Infelizmente na actualidade, e como bem referes, afrouxamo-nos simplesmente em aceitar a perda dos nossos direitos!

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  8. Nem sei k diga...a parte final da tua crónica não podia ser mais realista infelizmente.....:/ a Esperança é a última a morrer.. ki sá um dia as coisas melhorem !Assim esperemos!Mais uma vez parabéns pela forma como nos transportas a um passado tão presente;)

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  9. A oportunidade de nos debruçarmos sobre – “ O Liberalismo em Portugal – o início” foi um tema bem escolhido. O “Mestre” – Capitão Francisco trouxe-nos uma síntese histórica portuguesa dessa filosofia que nos afetou e que agora ressurge, com uma nova veste de “neoliberalismo”, destruindo as estruturas sociais e apontando só na direção dos lucros ou seja o ressurgimento da exploração capitalista.
    A cronica está muito bem concebida e dá o retrato do liberalismo português. Penso que é um bom trabalho.
    Se olharmos o mundo, recorde-se que foi François Quesnay, na altura de Luis XV de França que deu os primeiros passos para o surgimento do liberalismo, se bem que a fundamentação da teoria dessa filosofia foi desenvolvida pelo economista Escocês, Adam Smith. É interessante conhecer o percurso do liberalismo, para se perceber quanto essa teoria visa o desmantelamento das medidas de apoio social e reduz o cidadão em prol do capital. Vou deixar isso para os ma9is aptos analisarem e comentar.
    Gostaria só referir que o atual “Neoliberalismo” existente na Europa em geral e também em Portugal, não passa do avanço do “capitalismo selvagem do seculo XXI”, marginalizando mesmo princípios tomados pelos Liberais Sociais. Sem ser visionário, parece-me que a Europa está á beira de um grande confronto social que pode causar problemas na sociedade, que os dirigentes políticos, não tem sabido solucionar e que qualquer cidadão percebe que não se avizinha nada de bom. A guerra de interesses está no terreno e a maioria dos cidadãos vão ter de optar, em que lados da barricada se querem situar, mas que ninguém tenhas duvidas que os próximos anos serão de combate, de lutas, que podem ultrapassar as previsões de ambos os lados. As grandes alterações de funcionalidade das sociedades está em marcha, só falta saber para que lado irá surgir a força do futuro… importa que cada um assuma a sua opção convictamente.
    ml - 15 Jan.

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  10. Sem dúvida que o "liberalismo" de hoje é diferente do de 1828, como diz o Francisco, daí chamarmos, neoliberalismo, mas o conceito de lucro, de livre-cambismo, está cada vez mais assente na nossa sociedade. os valores sociais perderam a sua força e parece que esquecemos dos outros...vivemos numa selva que reduz o ser humano a uma "coisa"...nao podemos permitir isso...tem de haver uma "releitura" da sociedade, dos valores...

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  11. Adoro estas histórias, é tão bom saber que as nossas ilhas, principalmente a Terceira contribuíram para o desenvolvimento do nosso País.
    Continua a tornar-nos mais inteligentes...

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