quarta-feira, 12 de junho de 2013

Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro!

(imagens retiradas da internet)




Mateus Álvares: 
O falso D. Sebastião


Há exatos 428 anos, a 13 de junho de 1585, Mateus Álvares, o falso D. Sebastião, subia ao patíbulo (cadafalso) e morria a mando das tropas de Filipe II. Mateus Álvares nasceu na Praia da Vitória e era filho de um pedreiro. Ingressou na vida religiosa, indo posteriormente para o Continente, primeiro em Óbidos e depois no Convento de Santa Cruz, em Sintra. Contudo, Mateus Álvares não se ambientou à vida conventual, fugindo e refugiando-se numa gruta em S. Julião, 3 kms a sul da Ericeira. Ganhou o epíteto do Ermitão.

Nesta época da nossa História, Portugal vivia um momento muito conturbado. D. Sebastião tinha “desaparecido” em Alcácer Quibir, sucedendo-lhe o seu parente mais próximo, neste caso, o tio-avô Cardeal D. Henrique, já idoso, que morre, em 1580, sem herdeiros diretos, abrindo, assim, uma crise de sucessão. Havia 3 principais herdeiros, D. Catarina, Filipe II de Espanha e D. António, Prior do Crato. Este último foi aclamado Rei em Santarém, contra a vontade da Alta Nobreza, apoiante de Filipe II. O Rei espanhol acabou por enviar o seu exército, que mais bem preparado vence os apoiantes de D. António. O Prior do Crato acabou por refugiar-se na Terceira, o único ponto do país que ficou do seu lado. Só em 1583 é que os espanhóis conseguiram dominar a Ilha.

Foi neste contexto, de domínio espanhol, que os portugueses fizeram nascer a lenda que “ num dia de nevoeiro apareceria D. Sebastião na Ericeira”. Era a forma de manter viva a esperança pela independência. Assim, surgiram alguns falsos D. Sebastiões. 

Mateus Álvares era considerado um homem bonito e alourado e como apareceu na altura do desastre de Alcácer Quibir, passou a ser visto pelo povo como o regressado D. Sebastião. A população afirmava que D. Sebastião tinha envelhecido com as privações que tinha passado na batalha e por ter-se enclausurado na gruta. Assim, de palavra em palavra, Mateus Álvares virou D. Sebastião, sobretudo após ser interrogado sobre a veracidade da história e de nunca ter negado que era o Rei português. Nascia, assim, a lenda do Rei da Ericeira.

Em pouco tempo, espalhou-se a notícia da chegada do Rei para reclamar o seu trono. Um lavrador da Ericeira, que tinha uma filha, Ana Susana, ofereceu-se para ajudar Mateus Álvares, com a condição deste se casar com a sua filha e torná-la rainha de Portugal. Assim, poucos dias depois, Ana Susana casou com o “Rei” e foi aclamada rainha com a coroa da Nossa Senhora.

Com o surgimento de Mateus Álvares, foram organizados vários grupos nos arredores de Lisboa para entrarem na cidade e derrubarem o governo filipino. Contudo, alguém avisou o Rei espanhol, que mandou um exército entrar na Ericeira. O terceirense Mateus Álvares foi preso a 12 de Junho, sujeito a tortura, confessou que aproveitara a semelhança com o Rei desaparecido para levantar o espírito nacional contra o jugo espanhol. 

Mateus Álvares foi, então, levado à presença do rei, que mandou cortaram-lhe a mão direita pela qual assinara alvarás reais, que foi posteriormente, pendurada numa porta para que todas a vissem e ficassem a saber o que lhes podia acontecer caso se revoltassem contra Filipe II. Mateus foi levado para o cadafalso e, pronto para morrer, gritou bem alto que estais livres, portugueses! Olhai bem para mim, não sou D. Sebastião, mas sou um homem bom, um bom português que vos libertou do jugo castelhano. Agora sois livres, escolhei e proclamai rei quem quiserdes!. Foi enforcado a 13 de junho de 1585, com ele morreram o seu sogro e a maior parte dos homens de sua confiança no “Alto da Forca”, que ainda hoje existe na Ericeira. Filipe II acabou por dar carta geral de perdão aos “rústicos do concelho de Sintra”. Terminava, assim, a história de Mateus Álvares, o terceirense que foi Rei.

A aventura do Rei da Ericeira foi rápida, mas deixou marcas nas populações locais em redor de Sintra. Foi o D. Sebastião que mais apoiantes obteve e que melhor soube dinamizar o povo. Com o seu grito de esperança, deu novo ânimo ao espírito nacionalista.

O terceirense Mateus Álvares foi um fervoroso nacionalista que defendeu, até ao último momento, a independência de Portugal, combatendo contra o exército espanhol. Falta, atualmente, governantes “com fibra”, que defendam o melhor para o país, e que não desistam do objetivo maior, salvar Portugal da crise e da perda de identidade. Também precisamos de “homens bons”, que façam crescer a “portugalidade”.

É preciso viver o passado para construir o futuro! 
Francisco Miguel Nogueira 


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