terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Os 5 sentidos


(imagem retirada da internet)



Fibras: um puzzle (ainda) difícil de resolver


Não existe consenso em torno de uma definição das fibras. As certezas referem-se apenas aos benefícios da sua ingestão para a saúde. 

Na década de 1970, Burkitt e Trowell relacionaram a ingestão de fibras com a prevenção de doenças que eram frequentes em populações ocidentais, mas raras em populações rurais africanas. Surgiu assim a hipótese de doenças como a obstipação, diverticulose, hérnia do hiato esofágico, apendicite, hemorroidas, litíase biliar (pedra na vesícula biliar), obesidade, diversos tipos de cancro, doença coronária e diabetes, ocorrerem pela falta de fibras na alimentação. Naquela época referia-se que as fibras correspondiam à porção proveniente da parede celular de alimentos de origem vegetal, mal digerida pelo homem. Actualmente, várias definições existem, sem um consenso. E o obstáculo para uma definição única relaciona-se com: a dificuldade em definir as fibras como uma única entidade em nutrição; o elevado número de efeitos das fibras para a saúde; e a complexidade analítica para medir os inúmeros componentes dos alimentos. As diferentes definições incluem, em comum, a noção de que as fibras são componentes que escapam à digestão no intestino delgado e passam para o intestino grosso onde podem ser substrato para a flora do cólon, e têm efeitos benéficos para a saúde. Mas, nas várias definições, as fibras podem ser componentes intrínsecos dos alimentos, ou extraídos da sua matriz, sintetizados, modificados ou adicionados ao alimento. 

A escola de pensamento do Instituto de Medicina dos EUA, muito utilizada como referência internacional na nutrição, reconhece que as fibras não são digeridas no intestino delgado, mas reserva a expressão “fibra alimentar”, apenas para as fibras intrínsecas e intactas nos alimentos. A ironia é que, neste momento, o número de trabalhos de intervenção é maior para os estudos com ingestão de “fibras” isoladas dos alimentos (como, por exemplo, o beta-glucano, com inúmeros efeitos documentados, como o da prevenção de doença cardiovascular), do que para os estudos com fibras intactas nos alimentos. Para além do menor número de estudos, a interpretação dos resultados quando se ingerem as fibras na matriz original do alimento é muito mais difícil pois, neste caso, o indivíduo consome alimentos (como frutas, hortícolas e leguminosas), simultaneamente ricos em vários nutrimentos protetores, como vitaminas, minerais e fitoquímicos, tornando mais difícil, isolar o mérito de cada um deles. Só nas leguminosas, por exemplo, a riqueza em ferro, zinco, selénio, fósforo, potássio, vitaminas do complexo B e componentes bioactivos pode melhorar a regulação do açúcar no sangue, proteger contra o aumento do colesterol plasmático, e a diabetes de tipo 2.

Outro assunto por resolver relaciona-se com a inclusão nas fibras, de um conjunto de componentes - os oligossacáridos - que existem, por exemplo, nas leguminosas (como feijão, fava, ervilha ou grão-de-bico, e levam à formação de gases). Ainda que os efeitos fisiológicos destes componentes, como o aumento da absorção de minerais, a acção laxante e as alterações benéficas nas bactérias do cólon possam fazer sentido na operacionalização da definição de fibras, falta unanimidade para os incluir no grupo das fibras. Mesmo sem uma definição universal de fibras, há consenso de que ganhamos saúde ingerindo em quantidade suficiente as classes reconhecidas destes nutrimentos, especialmente através do consumo de hortofrutícolas, leguminosas e cereais integrais.

Dr. Pedro Moreira (Nutricionista)
Créditos: Público/Lifestyle


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