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Gago Coutinho, o aviador!
Há exatos 143 anos, nascia o Almirante português Gago Coutinho. Geógrafo, cartógrafo, oficial da Marinha, navegador e historiador, o Almirante teve uma vida cheia de aventuras e desventuras. Juntamente com Sacadura Cabral, Gago Coutinho fez a primeira travessia aérea do Atlântico Sul e entrou para a História Universal.
Carlos Viegas Gago Coutinho nasceu em Lisboa, a 17 de Fevereiro de 1869. Filho de pais humildes, acabou por ingressar no curso da Escola Naval, em 1888. Ao serviço da Marinha Portuguesa, participou em diversas operações militares, como por exemplo em Timor, em 1912. Entre 1898 e 1920, cartografou vários territórios e deve-se a ele a delimitação da fronteira entre Angola e o Zaire.
Conheceu o seu grande companheiro Sacadura Cabral, aquando de uma travessia de África a pé. Este acabou por incentivar Gago Coutinho a dedicar-se à navegação aérea. Ambos desenvolveram o sextante de bolha artificial (comercializado com o nome Sistema Gago Coutinho pela empresa alemã Plath) e um "corrector de rumos" (o plaqué de abatimento) para compensar o desvio causado pelo vento. Acabaram por testar estes instrumentos numa viagem aérea que fizeram entre a capital portuguesa e a Ilha da Madeira, em 1921.
Em 1922, Gago Coutinho e Sacadura Cabral realizaram o seu maior feito, a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Sacadura Cabral exercia as funções de piloto e Gago Coutinho as de navegador. Os aventureiros partiram de Lisboa a 30 de Março de 1922, com destino ao Brasil, para as comemorações do I centenário da independência daquele país.
Partindo num hidroavião monomotor de nome Lusitânia, os aventureiros portugueses fizeram a sua viagem por etapas. Na primeira etapa pararam nas Canárias, de seguida navegaram até Cabo Verde, precisamente até à ilha de São Vicente, fazendo 850 milhas.
Depois de uns dias em Cabo Verde, partiram até ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, no Brasil, onde a 18 de Abril amararam o Lusitânia. Contudo, o hidroavião perdeu entretanto um dos flutuadores. Os aventureiros acabaram por ser recolhidos por um Cruzador da Marinha Portuguesa, que os conduziu a Fernando de Noronha. Tinham voado 1 700km, apenas com recurso ao Sistema Gago Coutinho.
Com as atenções nacionais e brasileiras viradas para a viagem dos aeronautas, o Governo Português enviou outro hidroavião Fairey, baptizado como Pátria, para que terminassem a viagem. A 11 de Maio decolaram de Fernando de Noronha, mas entretanto, tiveram um problema com o motor e amaram o Lusitânia de emergência. Após 9h como náufragos, foram resgatados pelo cargueiro britânico Paris City, que os reconduziu a Fernando de Noronha.
No dia 5 de Junho, com um novo Fairey baptizado agora como Santa Cruz, levantaram voo rumo ao Recife, com o objectivo de terminar a viagem. Fizeram escalas em Salvador, Porto Seguro e Vitória . A 15 de Junho terminavam a sua travessia, pousando em frente à Ilha das Enxadas, nas águas da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a capital federal à época. A viagem tinha demorado 79 dias. Tinha feito 62 horas e 26 minutos de voo e um total de 8 383km.
Gago Coutinho retirou-se da vida militar em 1939, com 70 anos, mas em 1954, ainda foi convidado pela TAP para um voo experimental num DC-4 ao Rio de Janeiro, preparando-se, assim, a futura linha aérea regular entre Portugal e Brasil, o que mostra que continuava a ser um nome muito respeitado pela Aviação. A 18 de Fevereiro de 1959 morria o Almirante Gago Coutinho (amanhã fará 53 anos), tinha 90 anos e uma história de vida sem igual.
A primeira travessia aérea do Atlântico Sul foi um marco na História da Aviação e Gago Coutinho deu o seu importante contributo. Apesar de ter crescido na Marinha Portuguesa, foi na Aviação que se afirmou e trouxe reconhecimento para Portugal. Homem aventureiro e curioso, estudou várias áreas e colaborou no aperfeiçoamento da Aeronáutica mundial.
Portugal não tem tido homens de coragem, aventureiros, que procurem encontrar novos caminhos e novas alegrias para o país. As “desventuras” fazem parte do percurso do nosso País, nem sempre as etapas da nossa afirmação foram fáceis, pelo contrário, mas não desistimos de nós, nem de nos afirmar. É isso que precisamos hoje, de pessoas que não tenham medo de se aventurar “no escuro” em busca de soluções. Não é escondendo-se dos problemas que os resolvemos, é enfrentando-os!
É preciso viver o passado para construir o futuro!
Francisco Miguel Nogueira
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Caro Amigo Dr. Francisco:
ResponderEliminarGostei muito do conteúdo histórico deste artigo. Bem claro e bem escrito. Parabéns.
O Gago Coutinho foi realmente um gigante! Atravessou por terra o continente africano entre Angola e Moçambique. Desta experiência da selva africana, Gago Coutinho ganhou coragem para depois navegar no Oceano Atlântico mais de TRINTA MIL MILHAS para estudar directamente as correntes marítimas DOMINANTES e concluir com convição que foram os navegadores portugueses os PRIMEIROS a descobrir a América do Norte e do Sul. Devemos considerar o Gago Coutinho como um dos maiores historiadores de Portugal sobres os decobrimentos portugueses. Nunca escreveu nada sobre os descobrimentos comodamente sentado na sua biblitoteca, como costumam fazer os outros “historiadores papagaios” de Portugal! Era muito pragamático. Queria ver para cer.
Manuel Luciano da Silva, Médico.
hoje em dia, tanto há aventuras no escuro como às claras ( lol) , mas nao são pelas causas de valor!
ResponderEliminarCaro amigo e Mestre Francisco Nogueira, é uma honra poder partilhar dos teus conhecimentos mas sobretudo do entusiasmo que colocas ao serviço de uma História rica em destemidos Heróis. Ficarás também na História por isso, pela coragem de ousar defender com enorme sabedoria a destreza de um Povo, que cada vez menos acredita no seu país. Esta é uma excelente forma de animo e de serviço publico que não só esclarecerá muitos portugueses, mas sobretudo lembrará que antes de nós muitos foram os que fizeram da sua vida uma entrega pelo progresso que hoje todos nós desfrutamos nem sempre reconhecidamente. Parabéns e obrigada.
ResponderEliminarCaro Francisco,és o próximo aventureiro hehe:)que nos dá alento e esperança;) Parabéns pela teu contributo :)
ResponderEliminarSempre fomos grandes quando fomos persistentes contando essencialmente com as nossas próprias energias...
ResponderEliminarO Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho conquistou por direito próprio um lugar de destaque na História de Portugal. Nasceu como nos diz em 17 de Fevereiro de 1869. Começou a sua carreira na Marinha Portuguesa,entrando na Escola Naval em 1886. Foi oficial a bordo de vários navios de guerra e distinguiu-se na realização de importantes trabalhos geodésicos no Ultramar. Foi promovido a Vice-Almirante em 1922 e a Almirante em 1958. Dedicou-se ainda: à navegação aérea, realizando a primeira célebre travessia do Atlântico-Sul em parceria com Sacadura Cabral; ao estudo da História dos Descobrimentos, defendendo que foram os Corte Reais os descobridores da América do Norte. Tendo afirmado peremptòriamente "baseado na minha experiência náutica e técnica, acho que os Corte Reais são os descobridores irrefutáveis da América". O Almirante Gago Coutinho foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa durante 57 anos, tendo sido o 1º Presidente da Comissão Estudos Corte Real. Faleceu em Lisboa em 18 de Fevereiro de 1959 com 90 anos de idade. Legou uma boa parte da sua biblioteca e vasto espólio material à Sociedade de Geografia de Lisboa. Instituiu ainda o "Prémio Internacional Gago Coutinho, dedicado às Ciências Geográficas". A Sociedade de Geografia, em 17 de Fevereiro de 2009,promoveu com o devido brilho as comemorações do cinquentenário da morte do Almirante Gago Coutinho.João Moniz
ResponderEliminarAlmirante Gago Coutinho, tem, sem dúvida, uma história de vida mto rica e feitos q ainda hoje têm peso e dimensão a nível nacional e da aeronáutica mundial... O museu do ar de Alverca, tem um interessante expólio,onde se reune um pouco da história de Gago Coutinho e Sacadura Cabral! Mais o torna nobre e genial, o facto de vir de origens húmildes e de ser um verdadeiro autodidata, bem sucedido naquilo a q se propôs, o seus feitos foram ainda mais exaltados à luz de uma época em q havia meios parcos... Contraria/te a hoje em dia... Nunca houve, neste país, tanta formação, meios e acesso ao conhecimento e, ao mesmo tempo, tanto comodismo, tão pouca iniciativa individual e colectiva, e tão pouco mérito e brilhantismo... A sociedade esconde-se atrás de um conformismo preguiçoso e da falta de mérito e até de honestidade intelectual, de uma larga maioria, começando pelos altos dignatários deste país... Perdeu-se esta saudável curiosidade no saber e espírito aventureiro, que define os grandes Homens, q ñ necessitaram de ser heróis, apenas empreendedores!
ResponderEliminarComo sempre brilhante amigo!
ResponderEliminarParabéns pela entrevista, ficou muito bem.
Vais longe! Não te esqueças aqui do pessoal.
bjx
Mais uma crónica que eu adorei ler. Via estes dois nomes na Fanfarra Operária de Angra do Heroísmo e nunca pensava quem seriam estes dois senhores. Obrigada ao Sr. Professor por aumentar o meu conhecimento e cultura. Parabéns pelo grande contributo que tens dado às pessoas no geral no combate ao desconhecimento de tudo o que é História dos Açores e também de todo o país. :)
ResponderEliminarbjinhos
Interessante artigo, será bom não esquecermos os nossos antepassados, e os grandes portugueses, e temos muitos que devem ser a nossa referencia, mas é recomendável hoje olhar-mos para o presente e futuro também de uma forma critica, ora para isso é necessário entender-se o que se passa hoje no mundo, porque não podemos falar apenas de Portugal, pois existem vários factos que afectam o nosso país. Eu escrevi um artigo no meu blog que ajuda a isso: "Não Basta Serem Burros Também Tinham que ser cegos" e "Luta de Titãs". Não é ideológico como possa parecer à primeira vista mas filosófico e racionalista.
ResponderEliminarPaulo Ramires