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Rafael Bordalo Pinheiro - Um artista multifacetado
Há 166 anos nascia Rafael Bordalo Pinheiro, uma artista que marcou a segunda metade do séc. XIX, com uma obra vasta e variada. Artista multifacetado foi o grande precursor da caricatura política e social portuguesa, sendo um óptimo desenhador, ilustrador, aguarelista e ceramista, foi ainda decorador, jornalista e até professor e, por pouco tempo, actor e político.
Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro nasceu a 21 de Março de 1846, em Lisboa. Cedo conviveu com Arte e com artistas. Com apenas 14 anos inscreveu-se no Conservatório. Queria seguir a arte e o seu gosto pelo artístico, mas a sua inquietude não o deixava terminar os vários cursos que começava. Matriculou-se em desenho de arquitectura civil, desenho antigo e modelo vivo na Academia de Belas Artes, saltando depois para o Curso Superior de Letras e posteriormente para a Escola de Arte Dramática. Desistiu de todos.
Manuel Maria Bordalo Pinheiro, o pai de Rafael Bordalo Pinheiro, em 1963 arranjou-lhe um lugar na Câmara dos Pares, onde Rafael começou a sua curta carreira política, mas os primeiros contactos com as intrigas políticas dos bastidores, iria influenciá-lo e à sua obra para sempre.
Em 1868, Rafael Bordalo Pinheiro começou a sua vida artística, como artista plástico, fazendo composições realistas. Apresentou os seus trabalhos, pela primeira vez, na exposição promovida pela Sociedade Promotora de Belas-Artes, com oito aguarelas inspiradas nos costumes e tipos populares, com preferência pelos campinos de trajes vistosos. A sua arte começou a ser conhecida e, em 1871, recebeu um prémio na Exposição Internacional de Madrid.
Rafael Bordalo Pinheiro começou a desenvolver o seu trabalho de ilustrador e decorador. Em 15 de Maio de 1875 lançou o periódico A Lanterna Mágica, onde criou a sua figura mais conhecida, que o tornaria popular em todo o país, o Zé Povinho. Nesse mesmo ano, partiu para o Brasil, onde chegou a colaborar com alguns jornais locais, mas nunca deixou de manter a sua ligação com Portugal, colaborando com os jornais lisboetas. Voltou a Portugal em 1879, tendo lançado O António Maria, um jornal de humor político, que atacava sobretudo o Partido Regenerador, liderado por António Maria Fontes Pereira de Melo, que serviu de inspiração ao nome do jornal.
Naquela época, as caricaturas tornaram-se um fenómeno nacional. Rafael Bordalo Pinheiro caricaturou todas as personalidades importantes da vida política portuguesa, assim como da Igreja e da cultura nacional. Embora a sua crítica fosse mordaz e demolidora, conseguiu impor a sua arte e ser respeitado por todo, até pelos seus “inimigos” políticos. A 6 de Junho de 1903, o Teatro Nacional D. Maria II organizou um jantar de homenagem a Rafael, onde estavam praticamente todas as figuras que tinha caricaturado, mostrando o respeito e o valor do artista naquela época.
Em 1885, a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha convidou Rafael Bordalo Pinheiro para chefiar o sector artístico da fábrica. Rafael dedicou-se à produção de peças de cerâmica, que rapidamente adquiriram um cunho original. Rafael Bordalo Pinheiro chegou até a desenhar uma baixela de prata, além de dezenas de peças para a decoração de palacetes (desde azulejos, passando por painéis, frisos, placas decorativas, etc.). Rafael levou o Zé Povinho do papel para a cerâmica, representando-o em diversas atitudes e fez da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, uma das mais respeitadas na Península Ibérica.
Rafael Bordalo Pinheiro morreu a 23 de Janeiro de 1905 na rua da Abegoaria (actual Largo Raphael Bordallo-Pinheiro), no Chiado, em Lisboa. Artista dinâmico e activo, representou o povo português como ninguém e soube utilizar a sua arte para fazer passar uma mensagem de crítica política, social e dos costumes, mas sempre com muito humor. Felizmente o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa, no Campo Grande, reúne toda a sua obra. A exposição permanente tem secções de pintura, cerâmica e desenho, além de documentação e publicações. A visitar!
Actualmente, a obra de Rafael Bordalo Pinheiro mostra-nos a necessidade e o interesse que a crítica tem para o crescimento e afirmação do país. O humor é um veículo para se passar uma mensagem de mudança e de insatisfação. Devemos respeitar a liberdade de expressão e o direito de quando um fazer valer os seus direitos e os seus ideais. Além disso, Portugal tem de saber respeitar e preservar a obra dos seus artistas e a sua memória. Rafael Bordalo Pinheiro conseguiu, mas há outros tantos artistas que não têm o reconhecimento e os créditos que merecem. É o momento de defender o que é nosso...o que é bom…o que merece ser respeitado…
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É preciso viver o passado para construir o futuro!
Francisco Miguel Nogueira
NOTA:
Por motivos de ordem profissional,
as Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro,
passarão a ser à Terça-feira, continuando a ser semanalmente.
P.S. Esta crónica estará em destaque aqui blogue para dar oportunidade de todos os visitantes de darem a sua opinião sobre a mesma. A sua opinião é importante, PARTICIPE!
MEIO CRESCENTE – Ideias em movimento!
excelente trabalho.
ResponderEliminarNão conhecia a vida desta artista mas fiquei interessada. novo e bom trabalho em que se nota que gostas mesmo do que escreves.
ResponderEliminarMas q bom é, poder ler uma crónica sobre um artista nacional, tão respeitado aqui e além fronteiras... É rarissimo poder ler algo sobre as artes nacionais, mto menos artigos historiográficos... Sou adepta da obra de Rafael Bordalo Pinheiro, e já visitei algumas vezes a cidade das Caldas da Rainha c o único intuíto de apreciar as suas faianças... Adoro a sua sátira social e o brilhantismo das suas caricaturas... Rafael era um homem erudito e autodidata, atento aos pormenores da sociedade, e só alguém culturalmente evoluído poderá, em qqr tempo, desenvolver uma crítica social realista e construtiva...A ausência dessas caracteristicas, explica o sentido crítico omisso e inexistência de verdadeira oposição, na sociedade portuguesa dos nosso dias, pouco elucidada ou evoluída e tão pouco exigente... Tenho de agradecer este pedacinho tão interessante de história de uma das personalidades cívicas mais marcantes da 2ª metade do séc. XIX...
ResponderEliminarUm artista valoroso e que merece ser lembrado. Muito bom
ResponderEliminarGosto muito do Rafael B.P. E também gostei muito da sua Crónica: pequena, concisa e precisa. "Viver o passado para construir o futuro". Vejo os nossos políticos tomarem decisões onde há total desconhecimento da nossa História e daí os péssimos resultados. De facto, um´povo sem História é como um filho sem pais, bastardo, e daí com algumas dificuldades em se encontrar.
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