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O Pacto Ibérico:
Portugal e Espanha – relações na II Guerra
Há 73 anos, a 17 de Março de 1939, Oliveira Salazar e Nicolau Franco, embaixador de Espanha, assinaram o Pacto Ibérico, também conhecido como Aliança Peninsular. Foi um tratado de amizade e de não agressão estabelecido entre os países ibéricos no final da Guerra Civil de Espanha, e numa altura em que já se perspectivava uma guerra a nível global.
A Guerra Civil espanhola (1936-39), que foi o acontecimento anterior ao deflagrar da II Guerra, teve todos os elementos militares e ideológicos que marcaram o século XX. A Guerra Civil opunha os nacionalistas, aliados dos fascistas e das classes e instituições tradicionais espanholas, aos republicanos, ligados à Frente Popular (Esquerda unida) no Governo, que representavam os sindicatos, os partidos de esquerda, mas sobretudo os partidários da Democracia.
Quando a 18 de Julho de 1936, o General Francisco Franco insurgiu o Exército contra o Governo da Frente Popular, o povo saiu às ruas e impediu o sucesso do golpe, contudo um golpe militar estava em andamento e, em pouco tempo, o país estava dividido. Em pouco tempo, vários países, incluindo Itália, Alemanha e até Portugal participaram no conflito, do lado nacionalista. Do lado republicano, a Frente Popular conseguiu o apoio da Internacional Socialista, liderada pela URSS de Stalin. Na Guerra, Hitler testou o novo armamento de ponta, e pôde, assim, começar a delinear a sua política expansionista de forma mais sistematica.
Salazar, que ideologicamente estava próximo de Franco e dos nacionalistas, apoia-o, enviado forças militares portuguesas para Espanha (o que nunca foi oficialmente reconhecido) e capturando republicanos na fronteira portuguesa. No final da Guerra Civil, com a vitória de Franco, este reconheceu o apoio português e notando que a Guerra Mundial estava próxima, assinou com Salazar o Tratado de Amizade e Não Agressão Luso-Espanhola. A assinatura do Pacto teve o apoio da Igreja, que procurou aproximar os dois países e que incentivou uma mais estreita ligação entre os ditadores ibéricos.
Segundo o Pacto Ibérico, os dois países reconheciam mutuamente as suas fronteiras, estabelecendo relações de amizade e comprometiam-se a efectuar consultas diversas e recorrentes com vista a uma acção conjunta. Estava implícito no Pacto uma identidade de interesses comuns e um tratado entre dois regimes próximos e ideologicamente semelhantes. Era importante uma unidade luso-espanhola para garantir a segurança e a independência da Península Ibérica.
Em Julho de 1940, foi adicionado novo protocolo ao Pacto de 1939. Isto aconteceu já no contexto da II Guerra, quando a Alemanha já se lançara pela Europa e conquistara a França, estacionando as suas tropas juntos aos Pirinéus. A Península Ibérica estava ameaçada. Assim Salazar e Franco concordaram em instituir com valor obrigatório as consultas entre os 2 Estados. Para Portugal era importante ter Espanha neutral, porque o Pacto garantia a segurança política e a integridade territorial de Portugal, além disso afastava o perigo da anexação espanhola, mesmo havendo vários sectores pró-germânicos em Espanha, que não viram com bons olhos as negociações e que queriam um envolvimento espanhol na guerra.
As negociações para o Tratado tiveram o apoio britânico, que assim garantia a neutralidade de Portugal e Espanha em caso de conflito. Além disso, o Pacto Ibérico também servira como contraponto ao expansionismo germânico, pois Portugal declarara a sua neutralidade e conseguira “neutralizar” o regime franquista, que se afirmara não-beligerante, tendo uma atitude diferente, mas em acordo com a posição portuguesa. Assim, com o controlo da Espanha, a neutralidade portuguesa passou a ser mais “colaborante” com os aliados, concedendo facilidades nos Açores tanto a britânicos, como a norte-americanos.
Em 1948, já depois da II Guerra, Portugal e Espanha celebraram novo protocolo adicional ao Pacto Ibérico. Defendia-se a segurança da Península Ibérica face ao avanço comunista. Além disso, este Pacto permitiu que a Espanha de Franco fosse aceite pelos vencedores da Guerra e mesmo não fazendo parte dos fundadores da NATO, conseguiu ser inserida no sistema internacional. Já Portugal foi convidado a fazer parte da Aliança Atlântica, por motivos geo-estratégicos e pela política mais colaborante face aos Aliados. Ambos serviam como estados tampões em plena política de contenção (Containment Policy) em relação ao comunismo e à URSS.
O Pacto Ibérico celebrado em Março de 1939 permitiu que Portugal e Espanha definissem uma política de defesa e de segurança conjunta. Este Pacto foi responsável pelo não envolvimento espanhol na Guerra, que prosseguiu a política portuguesa do não envolvimento no conflito.
Actualmente e em plena crise, é importante que o bloco ibérico funcione a uma só voz e que façam pressão conjunta em Bruxelas. Esta união dos povos não significa perca de identidade nem de independência, mas da congregação de forças e de interesses conjuntos. As diferenças entre povos ibéricos têm sido acentuadas, sobretudo para marcar a distância entre os 2 países. As singularidades de portugueses e espanhóis devem ser defendidas, mas não pode ser exacerbada ao ponto de não se conseguir perceber que, mantendo cada um a sua identidade própria, ambos podem funcionar a uma só voz, sobretudo em termos económicos.
É preciso viver o passado para construir o futuro!
Francisco Miguel Nogueira
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MEIO CRESCENTE - Ideias em movimento!
Já te ouvi a contar esta história e sempre achei interessante como conseguimos nao entrar na guerra.
ResponderEliminarGosto da tua escrita simples mas emocionante, não és maçudo nem cansativo.
ResponderEliminarCom textos assim até apetece ler história.
Conhecemos a habilidade negocial de Salazar, ao "jogar" em várias frentes, numa fase tão complexa como as décadas de 30/40, do séc.XX, marcadas profundamente pela II GM, tendo sempre em vista a manutenção da integridade territorial de Portugal e do império colonial.
ResponderEliminarReal/te concordo ctg, que seguimos o caminho inverso da aproximação c Espanha, acho que se denota um cada vez maior afastamento, mesmo nas questões europeias, ñ só de Espanha, mas de todos os países do mediterrâneo, esta Europa divide, ñ junta, e ñ é de todo, solidária...Levando os países a olharem apenas p os seus problemas, com falsas promessas de soluções e aplicando o termo perfeito de "dividir" para o centro "reinar" e implementar a sua filosofia na União sem qqr respeito pelas realidades demais neste conjunto... Mas imputar as culpas nos outros tb ñ é razoável, pois a habilidade e espírito de liderança mesmo perante Estado mais poderosos, q uns tiveram a mais, têm outros a menos, de há 30 anos p cá, transformando uma boa oportunidade num rotundo falhanço...
Interessante como ficamos focados no desenvolvimento dos acontecimentos acima descritos e levemente finalizamos com uma ponta do véu de um assunto actual mas que paralelamente há receio de se falar a fundo, tentando não assustar aos que apelam pela "singularidade de ambos os Países". Pessoalmente penso que podemos crescer juntos , desde a nível educacional, formação, estrutura de empresas, porém sem perder a nossa identidade. Portugal e Espanha estão ambos em declínio para além do visível! "Ambos podem funcionar a uma só voz" ...percebi, no entanto se apresentar-mos esta filosofia, certamente os nossos vizinhos abririam o peito para exclamar..." agora somos só nós"!
ResponderEliminarBeijinho, gostei!
É bom que surjam temas como este, para que investigadores, sem preconceitos e isentos, analizem e comentem livremente os planos, a acção dos políticos, que fizeram a história, não só da Península Ibérica, mas até da própria Europa.
ResponderEliminarQuer se goste ou não dessas figuras, que então ocuparam um primeiro plano, deveremos saber distinguir e reconhecer, o que de bom, ou de mau, resultou da sua actuação no palco da História.
Este Pacto de Amizade e Não-Agressão, assinado em 17 de Março de 1939, habilmente negociado, neutralizou o nosso vizinho espanhol com quem, por força das nossas fronteiras terrestres, somos obrigados a conviver lado a lado.
A coesão Ibérica daqui resultante, ajudou Portugal a manter-se neutro, no aparecimento de divisões ideológicas muito marcantes na Europa.
A nossa posição agradou à Inglaterra, porque afastava a Espanha da Alemanha.
Iniciada a Segunda Guerra Mundial em 1 de Setembro de 1939, Portugal consegue manter-se, não só a si, mas a toda a Península Ibérica, fora da Guerra.
O que importa é construir o futuro. Olhar o passado deverá servir apenas, para honrar o que de bom nele existe e corrigir o que de mau, ou de menos bom, nele possa ter existido.
João Moniz
definitivo p a neutralidade espanhola durante a II GM..
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