(imagem retirada da internet)
As profissões imunes à crise
Não há sector laboral que não sinta as dificuldades da economia, mas há alguns que atravessam o momento com maior fôlego. Ciências médicas, tecnologias da informação, banca e marketing são, nesta altura, apostas de maior sucesso para quem quer sair do desemprego. Uma solução que continua a ser recomendada: adquirir formação e especialização e não ter medo de arriscar.
As estatísticas do desemprego em Portugal são más como nunca. No fim de 2011, segundo o INE, o quarto trimestre desse ano registou 14% de desempregados ; em Janeiro de 2012, diz o Eurostat, a taxa de desemprego em Portugal já tinha saltado para os 14,8%. Não há governante que admita contrariar a gravidade do problema, que é uma das graves ameaças ao cumprimento do défice. O ministro Miguel Relvas diz que os números são “preocupantes", o ministro da Economia fala num flagelo social; o primeiro-ministro não esconde que o pior ainda pode estar para vir, ou por outras palavras, que o desemprego ainda vai continuar a aumentar por mais algum tempo. Haverá sectores ou profissões imunes a esta realidade?
Foi essa pergunta que o PÚBLICO colocou ao IEFP e a empresas de recrutamento de mão-de-obra. A conclusão é a de que não há uma vacina que tenha posto sector ou profissão a salvo da quebra da economia, mas dentro da tempestade que se criou há sempre alguns refúgios que se aguentam melhor. As áreas médicas e as engenharias - com destaque para o mercado de Tecnologias de Informação - parecem estar menos expostas ao desemprego e os técnicos de vendas e os comerciais continuam a ter procura. “As profissões que continuam a ter muita procura são as mais exigentes e morosas em termos de formação académica e que implicam especializações posteriores”, diz ao PÚBLICO a direcção comercial da empresa de trabalho temporário tempo-team.
Nesta categoria entram, por exemplo, as profissões médicas e as engenharias, sobretudo as das Tecnologias de Informação (IT). Esta área também é invocada por outras empresas de recrutamento de recursos humanos, como a Adecco e a Randstad e pelo próprio presidente da Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado de Emprego (APESPE), Marcelino Pena Costa, que aponta o IT como uma das apostas certas de empregabilidade.
Quisemos confrontar estas opiniões com estatísticas do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). E o que os dados do IEFP dizem é que estes dois sectores de actividade (especialistas em engenharia e profissionais de saúde) representam 1,5% e 0,7%, respectivamente, no universo de desempregados inscritos, que chega quase a 800 mil, como se sabe. Em 27 grupos de profissões analisadas pelo IEFP, estes dois sectores de actividade estão na metade que registou menores níveis de desemprego. “Por outro lado, há que ter em conta o tempo médio de inscrição destes desempregados que se situa em 8,9 meses para os especialistas em engenharia e 7,0 meses para os profissionais de saúde, valor inferior ao tempo médio de inscrição da generalidade dos desempregados (13,3 meses), indiciando que estas são profissões para as quais a integração no mercado de trabalho é mais rápida do que para os restantes desempregados, confirmando desta forma uma situação mais favorável face ao desemprego”, esclareceu ainda o IEFP.
Marcelino Pena da Costa faz porém uma ressalva no que toca às profissões da área da saúde: “as coisas estão um pouco confusas nesta área porque, por um lado, há actualmente uma grande exportação de mão-de-obra e, por outro, por causa dos cortes orçamentais, o Serviço Nacional de Saúde recorre cada vez mais ao trabalho temporário.” Porém, nem só os engenheiros e os médicos têm “saída” neste mercado laboral condicionado pela crise. De acordo com a APESPE (que representa cerca de duas centenas de empresas de trabalho temporário em Portugal), as profissões ligadas às exportações e à actividade comercial (técnicos de venda, por exemplo) também têm procura.
Opinião semelhante tem Tiago Costa, consultor profissional da empresa de trabalho temporário Adecco. “Perfis que continuam igualmente a ter procura são os que ocupem funções que tragam resultados imediatos à empresa, nomeadamente funções de cariz comercial. Apesar de haver menos, ainda assim há oferta”, explica Tiago Costa. Paralelamente, as profissões técnico-profissionais também estão bastante imunes à crise, explica ao PÚBLICO Catarina Horta, directora de Recursos Humanos da empresa Randstad. “Um electricista ou um técnico de ar condicionado tem sempre uma empregabilidade elevada e mesmo que não o consiga através de uma colocação directa ou através de uma agência privada de emprego, tem grandes oportunidades de auto-emprego. Verificamos até que o nível de remuneração nestas áreas profissionais é o que tem diminuído menos no mercado”, explica.
Apanhar a onda
Diz o adágio que se a vida nos dá limões, devemos fazer limonada. Com a crise passa-se o mesmo. Em vez de sofrer com ela, porque não surfar a onda? “A crise económica que atravessamos traz novos problemas e desafios às empresas que têm sentido a necessidade de reforçar determinadas áreas”, explica a tempo-team. Que áreas são essas? Recuperação de crédito e análise de pré-contencioso são duas das mais significativas. “Este fenómeno resulta da necessidade crescente de as empresas recuperarem o mais possível o crédito mal parado, seja através da renegociação dos prazos de pagamento, seja através da inversão de situações que poderiam terminar em contencioso, diminuindo assim também, os custos judiciais”, indica a tempo-team.
“As profissões que têm vindo a conhecer uma maior procura devido à crise acabam por ser profissões dentro de sectores como a banca, os seguros e as finanças; profissões ligadas ao controlo de riscos e à diminuição da exposição das seguradoras”, explica por seu lado a Adecco. Por outro lado, há cada vez mais a necessidade de fidelizar ou cativar clientes, pelo que as funções nas áreas do telemarketing, promoção de produto e fidelização de clientes estão em alta. A ideia é reforçada por Tiago Costa: “Outra das funções que tem vindo a mediatizar-se é a de vendas e marketing online, que permite a conjugação de uma redução de custos ao nível de vendas e promoção de produtos e/ou serviços através da utilização de ferramentas web”.
Dar a volta à situação
No que toca ao desemprego juvenil - 35,1% em Janeiro, segundo o Eurostat) -, o PÚBLICO quis saber que conselhos é que as empresas de trabalho temporário dariam aos jovens que não conseguem encontrar um emprego na sua área de estudos.
O primeiro conselho, da parte da tempo-team, é este: “ser empreendedor e criativo e criar o próprio emprego”. Em que áreas? Agricultura, ciência, marketing digital, web design e restauração são algumas das sugestões da empresa.
Por seu lado, a Adecco, prefere salientar a importância de os jovens licenciados não terem experiência: “se em muitos casos isso é um factor eliminatório, em tantos outros isso será um factor positivo, pois permite ao recém-licenciado explorar outros mercados que um desempregado de longa duração talvez não explore porque estará formatado para o desempenho das funções que sempre desempenhou”. Paralelamente, um recém-licenciado tem a vantagem - para o mercado de trabalho - de ter uma menor margem negocial. Traduzido por miúdos: aceita o que lhe dão. “O recém-licenciado tem necessariamente de ceder em determinadas condições, especialmente no que diz respeito a condições salariais”, explica Tiago Costa, da Adecco. A saída da “zona de conforto” também é contemplada por esta empresa, que diz que qualquer recém-licenciado sem trabalho “deve igualmente procurar alternativas em mercados emergentes”.
Quanto aos desempregados de longa duração, a abordagem deve ser a da persistência. “Não ficar inactivo durante muito tempo”, indica a Tempo-Team. Mesmo que as pessoas estejam a receber o subsídio de desemprego, esses desempregados deverão aproveitar todas as oportunidades de trabalho temporário. “Isto é importante porque estarão a potenciar as suas competências e a criar mais oportunidades de darem a conhecer o seu trabalho”. Para além disso, os desempregados deverão encarar a procura de emprego o seu “trabalho” diário, em regime de “full time”, indica a tempo-team.
Para tal, eis algumas dicas da empresa que o poderão ajudar neste “trabalho”.
- Utilize a sua rede de contactos para obter informações sobre potenciais oportunidades, contacte directamente com consultores em empresas de recrutamento e com chefias em empresas nas quais lhe interessaria trabalhar;
- Tem sido contactado para entrevistas e não tem sido colocado? Reflicta sobre si próprio e elabore argumentos sobre as suas "mais-valias" e sobre a sua motivação;
- Prepare as entrevistas: prepare-se para descrever sem hesitação situações de sucesso e de insucesso durante o seu percurso profissional, bem como os resultados obtidos;
- Consulte informação sobre elaboração de currículos e reavalie o seu;
- Considere a mobilidade a nível nacional e internacional como uma possibilidade efectiva e não como último recurso.
Por Susana Almeida Ribeiro
Créditos: Público/Economia
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