(imagem retirada da internet)
Contacto precoce com germes bom para a saúde
No filme O meu tio, de Jacques Tati, o sobrinho – Gérard, um miúdo de uns 10 anos –, come um ovo na cozinha asséptica da sua casa high-tech – e a seguir vai passear com o tio e empanturra-se com um bolo de higiene duvidosa comprado a um vendedor ambulante. Mas será que a comida de rua é mais perigosa para a saúde do rapaz do que a comida esterilizada da sua mãe?
Há anos que se pensa que a exposição das crianças desde cedo aos micróbios que normalmente nos rodeiam é importante para estimular o seu sistema imunitário. Só que até aqui, não havia indícios biológicos nem potenciais mecanismos que sustentassem a ideia, baptizada “hipótese da higiene” e que responsabiliza os elevados níveis de higiene do estilo de vida moderno e urbano (e o recurso precoce aos antibióticos) pelo aumento das alergias, da asma e das doenças auto-imunes. Mas ontem, Richard Blumberg e colegas, do Hospital Brigham and Women’s de Boston, nos EUA, publicaram na revista Science os primeiros resultados susceptíveis de pôr finalmente fim ao debate.
Os cientistas compararam os sistemas imunitários de ratinhos criados para serem “livres de germes” com o de ratinhos que viviam num ambiente normal – ou seja, cujo organismo continha bactérias e outros micróbios. Por um lado, constataram que os ratinhos “sem germes” apresentavam inflamações dos pulmões e do cólon semelhantes à asma e à colite e que esse estado se devia à hiperactividade de um certo tipo de linfócitos T já associados a estas doenças noutros estudos. Mas, mais importante ainda, descobriram que quando expunham os ratinhos sem germes aos micróbios logo durante as primeiras semanas de vida, o seu sistema imunitário normalizava-se e essas doenças não surgiam – o que não acontecia quando os animais só eram expostos aos micróbios já na idade adulta. A protecção imunitária obtida no primeiro caso era, para mais, de longa duração.
“Estes estudos mostram a importância crucial de um condicionamento imunitário adequado por micróbios logo nas primeiras fases da vida”, diz Blumberg. Porém, os cientistas permanecem prudentes, salientando que ainda serão precisos estudos em humanos.
Créditos: Público
Escrito por Ana Gerschenfeld
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