(imagem retirada da internet)
Aprender a estudar
Saber estudar é fundamental para o percurso académico de todas as crianças e deve ser ensinado desde cedo. Em casa, os pais podem desempenhar um papel importante. Aqui ficam alguns conselhos úteis para pôr em prática no início deste ano escolar.
“Estudar, como se faz?”, “Valerá a pena aplicarmos os métodos do antigamente ou do agora é que é bom?”, “Até que ponto ajudar a estudar?”, “E em que condições: com a televisão aos berros ou em silêncio sepulcral?”… No prefácio do livro Ensina o teu filho a estudar, o pediatra Mário Cordeiro enumera uma série de questões que surgem necessariamente aos pais com filhos em idade escolar. Renato Paiva, o autor do livro, baseou-se na sua vasta experiência como formador e orientador escolar, para passar aos pais um conjunto de pistas e informações úteis, sobre um tema por vezes negligenciado, mas absolutamente necessário. Eis algumas das mais importantes.
Criar hábitos de estudo: Os alunos devem estudar com frequência e antecedência. Incite o seu filho a estudar com regularidade (o que permite ir acompanhando a matéria, não a deixando acumular) e de forma atempada, possibilitando reforços de aprendizagem e esclarecimento de dúvidas. Renato Paiva alerta: “Não obrigue o seu filho a estudar. Incentive-o a estudar. Demonstre-lhe que o estudo faz parte de ser estudante e que contribui para o seu sucesso”. No entanto, não é possível que os alunos estudem apenas quando lhes apetece, por isso a criação de uma rotina de estudo é fundamental. É comum ouvirem-se os alunos dizer: “Esta semana não preciso de estudar porque não tenho testes”. “Um tremendo engano!”, na opinião deste pedagogo. “É precisamente nessas alturas que o estudo se torna mais produtivo”.
Planear e diversificar: Evite que o seu filho estude apenas aquilo de que gosta. Deve estudar de forma equilibrada as diferentes disciplinas e não estudar de seguida temáticas semelhantes, como duas línguas ou Matemática logo após Físico-Química, ou História a seguir a Geografia. Diferentes disciplinas privilegiam diferentes estratégias, fazendo com que o estudo não seja tão monótono. O aluno deve iniciar o estudo pelas matérias nas quais sente uma dificuldade intermédia, seguidas das mais difíceis e terminar com as mais fáceis.
Saber estudar implica saber parar. Faça com que o seu filho dedique cerca de um terço do tempo para descansar. Cerca de 15 minutos por cada 45, é o ideal. Nesse descanso, deixe-o fazer o que lhe apetecer. Repartir o esforço por vários momentos traz melhores resultados.
Ler, explicar e praticar: Estudar é muito mais do que ler e memorizar! Numa primeira fase, o aluno de facto deve ler com atenção as fontes de informação, sublinhando o que lhe parece ser mais importante. Mas, de seguida, é muito importante que reproduza a matéria por palavras suas. Que faça resumos, apontamentos, esquemas, simule que é o professor e explique a matéria a alguém. “A melhor maneira de aprender é ensinar”, defende Renato Paiva. E ilustra o papel que os pais podem aqui assumir: “Verificarem se falta informação, fazerem algumas perguntas para perceberem se a criança consegue explicar, pedirem pormenores e exemplos, ou mesmo dizerem que não perceberam para que o filho seja mais explícito ou tente uma diferente explicação”. Numa terceira fase, o estudo implica a realização de muitos exercícios, para o aluno conseguir demonstrar o que sabe e para tomar contacto com diferentes tipos de perguntas que lhe podem ser colocadas. Em termos de alocação do esforço do aluno, é aconselhada a regra 20-40-40: 20% para apreensão de conhecimentos, 40% para a concretização por palavras suas do que aprendeu, 40% para a resolução de exercícios.
Local de estudo: Além de ser muito importante, o ambiente de estudo é um dos fatores que os pais mais podem influenciar. O local escolhido deve ser calmo, com boa luminosidade, temperatura agradável e boa ventilação, ter espaço suficiente para todo o material necessário e ser livre de ruídos perturbadores. A evitar locais de passagem, onde possa ser interrompido constantemente. Renato Paiva é perentório: “Música e televisão só causam distração! E evitem que os alunos estudem com o telemóvel ao pé. As solicitações permanentes, como os SMS, perturbam, causam paragens e desvios de atenção”. E até deixa algumas dicas de iluminação e ergonomia, como colocar um foco de luz do lado oposto à mão com que o aluno escreve, para que não provoque sombra sobre o que está a escrever. Este pequeno pormenor evita esforços suplementares que podem provocar cansaço e até dores de cabeça. Quanto à posição relativa entre a mesa e a cadeira, deve permitir que o aluno tenha o tronco direito, os pés apoiados no chão e que tenha um encosto para uma postura correta e confortável.
Promover autonomia: Desde cedo, as crianças devem ser incentivadas a estudar sozinhas. É normal que não sublinhem logo só o que interessa, que os resumos fiquem incompletos, mas é um processo de evolução contínua, em que os alunos só melhoram se praticarem e tiverem a possibilidade de experimentar. Os pais devem estar atentos e por perto. “A promoção da sua autonomia académica é também um reforço da sua autonomia pessoal”, resume o autor dos livros Ensina o teu filho a estudar e SOS Tenho de Passar de Ano. A criança deve ser ajudada quando tem dificuldades, após os pais perceberem que se esforçou por conseguir sozinha mas não foi capaz. Os pais podem ajudar, fornecendo-lhe estratégias para que consiga estudar sozinha o mais cedo possível. É importante ensiná-la a estudar e não estudar por ela. Renato Paiva deixa um último conselho: “Seja positivo e faça os seus filhos acreditarem que são capazes. Transmita-lhes segurança e valorize os seus sucessos”.
“SÃO RAROS OS PROFESSORES QUE ENSINAM A ESTUDAR!”
Renato Paiva, autor do livro Ensina o teu filho a estudar, lançado este ano, responde a três questões sobre um tema essencial.
1 - Saber estudar é uma competência cada vez mais necessária?
É cada vez mais valorizada porque os alunos são agora menos autónomos e mais dependentes. Há cerca de duas/três gerações atrás, os pais, não sendo tão qualificados, tendiam a promover desde cedo a autonomia dos alunos porque não conseguiam corresponder ao solicitado. Agora, felizmente, temos pais mais letrados, mas que caem no erro de ajudar de demasia. Esta “muleta parental” ao estudo não os deixa crescer, experimentar e ganhar autonomia na aquisição de competências de trabalho.
2 - Em que idade deveria ser desenvolvida essa competência?
É logo no primeiro ciclo que eles deveriam tentar perceber quais as estratégias que melhor se adaptam ao seu perfil de aprendizagem. No primeiro ano estão muito motivados e aderem muito bem a uma metodologia de trabalho regular e atempada. Se os professores, na sala de aula, possibilitassem experiências como explicar o que é fazer um resumo ou como se volta a ler um texto com olhos de perceção de memória de trabalho, seria mais fácil. Mas são raros os que ensinam a estudar. A maioria dos alunos tem maus processos de trabalho, mas nunca foram ajudados a descobrir o seu melhor. Se ninguém lhes explicou como se faz, nem lhes deu tempo para praticarem, é natural que o façam de forma deficiente.
3 - Que ideia chave gostaria de passar aos pais?
Incentivar que os filhos optem não por estratégias de memorização mas de compreensão é uma preocupação parental que devia ser tida em conta. A maioria dos alunos ainda lê muito, sublinha muito, mas depois tem uma atitude muito pouco ativa. Recebe a informação, compreende-a e fica com a sensação que sabe, mas passados dois dias, se tenta reproduzi-la, não sabe nem metade.
Créditos: Revista Pais e filhos
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