A Crónica da Terceira:
O Primeiro jornal dos Açores
Há exatos 183 anos, a 17 de abril de 1830, o primeiro jornal em prelo dos Açores era publicado, chamava-se Chronica da Terceira. O periódico foi criado pela Regência Liberal na Terceira, tendo, assim, uma clara vertente constitucionalista e um objetivo de divulgar a política dos liberais.
A Crónica da Terceira era o órgão oficial da Regência da Terceira, que pretendia divulgar os actos da Regência e primeiras autoridades que em nome da Rainha nos governam. A Crónica era dirigida por Simão José da Luz Soriano, jornalista, historiador e político liberal, que nos deixou bibliografia extensa. Colaborava, ainda, com o jornal, José Estevão Coelho de Magalhães, que ainda jovem em 1830, viria a tornar-se um notável jornalista, político e orador parlamentar, sendo a figura dominante da oposição de esquerda na Câmara dos Deputados a partir de 1836, por quase 25 anos. A experiência na Chronica da Terceira deu-lhe conhecimentos para, em 1841, criar o periódico a Revolução de Setembro, o mais influente jornal liberal. Tanto Luz Soriano, como José Estevão fizeram parte do grupo dos Bravos do Mindelo.
O primeiro número do periódico iniciava-se com o Decreto de 3 de março de 1830, onde D. Pedro, ainda Imperador do Brasil, abdicava solenemente do trono português em nome de sua filha, D. Maria II e criava, em Angra do Heroísmo, a Regência Liberal, composta pelo Marquês de Palmela, pelo futuro Duque da Terceira e por José António Guerra. Mouzinho da Silveira era nomeado Secretário de Estado da Regência, com intervenção em todas as áreas governativas, situação que se manteve até 28 de março de 1832, quando D. Pedro, já como Duque de Bragança, assumiu a regência.
A Crónica da Terceira era um jornal semanal, que circulou até março de 1831, tendo sido publicados 44 números. Era impresso num prelo de madeira e bronze e com material tipográfico trazido de Londres pelos liberais que, exilados em Inglaterra, vieram para a Terceira para preparar a luta contra o Absolutismo. A Chronica da Terceira teve as suas primeiras instalações na antiga casa de um miguelista e tenente-coronel das milícias de Angra, José Teodósio de Bettencourt Lemos, na rua da Sé.
Em 1831, a Crónica da Terceira deu lugar, a partir de 3 de abril, ao semanário Chronica, também de índole liberal. Foram publicados 41 números e 1 suplemento. A 29 de maio de 1832, o jornal cessou atividades, estava a preparar-se o desembarque no continente português. Com as vitórias liberais, era criada a Crónica Constitucional, com sede no Porto, que procurava divulgar as diretrizes, atos e decretos liberais. Contudo, a experiência terceirense marcou indelevelmente o futuro do jornalismo liberal.
A imprensa liberal foi necessária, não só na divulgação, mas também na preservação dos ideais de liberdade que o Liberalismo tanto defendia. A Crónica da Terceira foi o primeiro periódico regular dos Açores e teve um papel forte e importante no seu tempo, sendo, atualmente, uma excelente fonte histórica para o estudo do Liberalismo e da profícua legislação que Mouzinho da Silveira promulgou e que foi responsável pelo novo mapa concelhio nascido no século XIX.
A poucos dias da comemoração dos 39 anos da Revolução dos Cravos, a Liberdade de informação é um tema recorrente nos últimos anos. É importante que aja respeito pelos direitos e deveres dos jornalistas em informar, em fazer uma imprensa mais verdadeira, realista e isenta possível. Contudo, infelizmente há várias entidades que fazem pressão e que tentam camuflar a realidade dos factos. Se é verdade que estamos em Democracia, também é bem real que a crise tem sido utilizada para restringir as liberdades. Não podemos permitir, pois a Revolução fez-se para não haver censura, nem controlo estatal.
A classe jornalística também necessita de procurar fazer mais investigações e não apenas suposições, sem ir ao fundo dos factos. Não se podem criar notícias, é dever dos jornalistas analisar a realidade para serem o mais isentos possíveis e não terem tendências partidárias. Além disso, os jornais têm de procurar informar, não contar a história do seu ponto de vista, procurando salientar o que lhes convém e fazer a informação. O jornalista tem apenas de transmitir a informação.
Atualmente, a informação corre mundo em poucos segundos, o que mostra que evoluímos e é bom sabermos que estamos a par de tudo o que se passa, mas é pena que muita da informação que mais nos interessa é escondida, que a realidade de países em guerra, a pobreza dos povos, é camuflada com informações que se querem veicular por interesse.
Vamos aproveitar estes dias, caros concidadãos, para analisarmos a liberdade de informação que nos rodeia e procuremos mostrar que queremos olhos deontologicamente profissionais.
É preciso viver o passado para construir o futuro!
Francisco Miguel Nogueira
P.S. Queremos saber qual a sua opinião sobre esta crónica, faça deste espaço seu. PARTICIPE!
MEIO CRESCENTE - Ideias em movimento!
gostei Francisco do conteúdo desta matéria sobre o embrião da imprensa Portuguesa..parabéns!!!!!!!!!!
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