sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro!

Imagem retirada AQUI

O Amante da Rainha, En köngelig affære 


Sempre gostei de romances históricos, sobretudo aqueles que recriam personalidades marcantes e decisivas ou então conhecimentos que marcaram o seu tempo. 

Um dos meus romances históricos favoritos é Young Victoria (Jovem Vitória), um retrato dos primeiros anos da vida da rainha Vitória, os primeiros anos de reinado e a sua paixão pelo seu primo e futuro marido, o Príncipe Alberto. Outro filme que adorei foi o recente Fetih 1453 (Conquista-1453), com o qual fui apresentado ao cinema turco, que me surpreendeu imenso, como já havia contado na minha crónica sobre a história romanceada. Contudo, nestes dois casos, ambos falam sobre algo que eu conhecia, a vida de Vitória, uma das personalidades históricas que mais admiro e o outro com a conquista de Constantinopla, o acontecimento que marca o fim da Idade Média e que é sobejamente estudado e retratado. Apesar disso, apaixonei-me pelas histórias. 

No caso d’O Amante da Rainha (En köngelig affære), além de desconhecer o cinema dinamarquês, pouco conhecia sobre a vida da rainha Caroline Mathilde (Alicia Vikander), nascida britânica, neta e irmã de Reis britânicos, apenas que se casara com o Rei da Dinamarca e que ele era considerado louco. Com estas prerrogativas, assisti ao filme. 

A Rainha Caroline casou-se com apenas 15 anos com Christian VII (Mikkel Boe Følsgaard), um rei que pouco interesse tinha nos seus afazeres e na sua condição real, um boémio que, ao longo do filme, tem atitudes de loucura, talvez esquizofrenia mesmo. Caroline fora criada com os preceitos iluministas e choca com o pensamento arcaico dinamarquês. 

Quando Caroline tem o seu primogénito, Christian VII que pouco se importa com a família, parte numa viagem ao estrageiro. É aí que Christian VII conhece um médico alemão, Johann Struensee (Mads Mikkelsen), designado a tentar ajudar o rei a controlar sua loucura. Desde a primeira cena juntos, que notamos a influência que Struensee tem no Rei. 

Struensee é um intelectual, influenciado pelo iluminismo e a sua entrada na Corte gera inevitavelmente uma aproximação com a Caroline Mathilde que, ao contrário do marido, vê para além dos muros do palácio. Assim, ambos os governantes se encantam pelo médico. Struensee influencia o rei a realizar reformas sociais importantes na Dinamarca e inicia um romance com a rainha. Os dados da história estão lançados e o desfecho torna-se previsível, mesmo para quem não conheça a história real. 

A partir deste momento, o filme esquece da introdução do Iluminismo na Dinamarca e centra-se demasiado no típico triângulo amoroso. A rainha Caroline perde o seu lado progressista e de personalidade forte, ficando presa à imagem de mulher apaixonada e de subjugada ao marido, o que a distancia da imagem real que se tem da rainha. O grande momento deste filme é a degolação de Struensee em praça pública (e mais não digo!). 

O romance é retratado de uma forma mais realista e sem maneirismos. O que é ressaltado pela bela fotografia e a reconstituição de época impecável. Quanto ao elenco, temos um Mads Mikkelsen (Struensee) com uma excelente interpretação, a despertar a atenção como o cuidadoso médico, que consegue seduzir sem ser exatamente um sex simbol. Enquanto isso, Mikkel Boe Følsgaard (Christian VII) consegue balancear o temperamento difícil do rei, sem que o personagem pareça apenas mais um louco a governar um país, mas que seja movido pela impulsividade, o que deturpa a sua realidade dos factos. Fabuloso! 

Quanto à jovem Alicia Vikander (24 anos) consegue exprimir a dor de ser uma mulher com ideias, mas que não consegue ter voz, porém não se deixa cair no “vitimismo” da situação, uma interpretação que tem sido avaliada de várias formas, mas que eu considero boa, pois conseguimos ver no rosto todos os seus sentimentos. 

O filme é dirigido pelo dinamarquês Nikolaj Arcel e já ganhou os prémios de melhor roteiro e de melhor ator para Mikkel Boe Følsgaard no último Festival de Berlim, além que o filme foi escolhido para representar a Dinamarca Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013. 

Dou a nota de 7/10 e aconselho a verem…nem que seja para conhecerem o cinema dinamarquês e descobrirem um pouco da vida de Caroline, e quem sabe, fazer como eu, ler depois várias coisas sobre ela, e se apaixonar por esta jovem, mesmo com os seus defeitos. A ver! 

Em Portugal, com uma história cheia de “pequenas grandes coisas”, tem de haver mais esforço e vontade, em divulgar a vida das pessoas e dos acontecimentos que marcaram o nosso percurso. É preciso olhar e não ter medo de mostrar aos outros o que nós temos, sem medo de recriar factos de uma história multissecular. Na restante Europa não há medo de se mostrar o passado, também não deveríamos. 


É preciso viver o passado para construir o futuro! 
Francisco Miguel Nogueira 

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