A prova de que não são apenas as mulheres vistosas que mais pretendentes contabilizam, mas sim ou talvez, unicamente mulheres com personalidades distintas!
Fátima, uma mulher tão conhecida, tradicionalista, discreta, senhora de bons costumes, respeitada pelos mais jovens, pelos seus conterrâneos, sua família e pela paróquia, respeitada por todos aqueles que a bebem de baixo dos lençóis.
Fátima é tudo menos a mulher de curvas sublimes, talvez a sua sensualidade seja transmitida quando esta, por momentos mais oportunos dirige-se para os demais com atrevimento em suas silabas!
Digo que Fátima é uma senhora perspicaz, por vezes imagino-a ainda jovem…de quantos arbustos avistou Fátima as gaivotas aquando ainda donzela? Para os maioritários desta freguesia, Fátima ainda é uma donzela!
O que faz Fátima? Fátima faz de tudo, é mãe de seus sobrinhos, viuvou ainda muito jovem, enfeita Igrejas e Ermidas com as mais frescas e belas flores, é professora primária, cuida de seus pais e dos pais do falecido, está sempre pronta a dar…e dá mesmo.
Dá carinho e colo quente!
Conheço a Professora Fátima desde muito cedo, nessa altura poucos na ilha tinham computador e poucas mães conduziam, normalmente os nossos pais é que nos levavam logo pela manhãzinha à escola ou então as nossas mães pelo braço, lamento que esta senhora não tenha sido a minha professora, invejava os meus coleguinhas, estavam sempre alegres e gozavam mais 5 minutos de recreio do que a minha turma, só anos mais tarde tive o privilégio de conversar com esta senhora, ambas nas compras e a senhora discretamente perguntou o meu nome e afirmou que leu e ouviu-me a falar sobre um trabalho que fiz sobre Sexologia…
_ Não senhora, apresentei uma crónica e debrucei-me sobre algumas questões preocupantes para esta nova geração- respondi-lhe com um sorriso de canto a canto, retificando que não sou sexóloga, então esta terminou o elo de conversa felicitando-me e convidando-me a passar brevemente em sua casa.
Desde então mantemos contacto e posso vos garantir que ninguém a conhece tão bem… quanto conhece a minha escrita!
Dona Fátima tem 44 anos, rosto maduro, mas delicado, parece-me que tem umas ancas bonitas, mas o que me chama a atenção é a sua serenidade…o timbre suave que lhe sai de sua boca, todos os seus movimentos são lentos mas firmes, a sua voz parece o tilintar de pequenas folhas a cair no chão com a ajuda da brisa em início de outono…é tão…reconfortante!
Neste preciso momento em que me debato com a vontade de escrever sobre esta senhora, tenho a perfeita consciência de que a beleza é apenas um ponto a acrescentar ou a diminuir para a contabilidade de qualquer homem.
Fátima casou-se muito jovem, um erro, admitiu-me enquanto escrevia euforicamente no meu caderno de rascunhos com a sua autorização, este senhor (que Deus o tenha), foi o seu único amor puro, o casamento pouco durou mais de um ano, e esta permaneceu de luto durante 365 dias, chorou, lamentou-se…após 367 dias esta professora dedicou-se aos novos métodos de ensino, lutou para uma renovação de interação entre formadores/encarregados e alunos, nos seus tempos livres dedicava-se à musica, à pintura e nos recreios com os miúdos os incentivava ao bricolage …e novamente penso no meu tempo de menina, enquanto ouvia os professores entre si a comentar os muitos bons dessa turma, e eu e os meus restantes colegas a desejar insanamente para terminar o dia escolar!
Nesse período, Fátima rapidamente ascendeu na sua profissão, ainda hoje é diretora de duas escolas primárias próximas, fundou uma associação destinada a crianças deficientes, escusado será dizer que ficou desde então com um Cartão-de-visita como poucos, desde os anos 90, Educação e Cidadania era e é o seu forte e em consequência foi sempre convidada para apoiar e direcionar palestras, dar formação aos colegas, colaborar em outras Instituições, com tal reputação, soube de imediato que o seu futuro seria próspero, contudo, parte de si não deveria viver à luz do dia, não os seus desejos que teimavam em reaparecer todas as noites…
***
É impensável misturar trabalho com prazer, não da forma explícita que esta acaba de me contar…falo do prazer enfermo que a Dona Fátima sentira entre as pernas de todas as vezes que os olhos verdes e esmagadores do seu colega passavam por si, o jeitinho meigo de lhe entregar as capas e o livro de presença foi correspondido desde que este jovem presenciou trabalho na escolinha, poucos meses depois surgiu o convite:
_ Estamos todos a combinar para logo à noite, é sexta feira…
A noite foi sossegada, alguma vodka à mistura, os restantes colegas ficaram para o bailarico, mas Fátima já muito desabituada a noites longas, decidiu chamar o taxista que os tinham levado para a festa horas antes, nisso, em passos largos o seu colega gentilmente se ofereceu.
Pouco conversaram, vergonha e talvez um fio de ingenuidade de Fátima;
_ O primeiro e segundo beijo soube-me tão bem, os seguintes foram mecanizados, recordo-me de aproveitar ao máximo a sensação de sentir um lábio superior a sorar no meu inferior, senti um ardor no peito e os mamilos respondiam- acaba de me contar enquanto prepara a salada perfumada para logo almoçarmos nesta tarde abafada de sábado que se faz sentir em Angra do Heroísmo.
Ela estava nua…ele de jeans…o assento do carro era confortável, segundo o que consta, era um rapaz bem estruturado, Fátima concentrava-se no olhar, sentia que estava pronta para receber um homem dentro do seu corpo…no entanto, foi um momento infeliz o sexo do jovem afroixava-se de todas as vezes que tentaram, disse envergonhadamente que estava cansado…no segundo encontro também! Fátima afastou-se do colega e só mais tarde percebeu que este sofrera de disfunção eréctil, pois nesse mesmo ano foi traído pela sua única namorada, ficou muito abalado, parece que o rapaz até hoje não tem companheira…seria importante discutir este assunto e o incentivar a procurar um especialista, mas ao que parece ninguém o faz, a Fátima diz que se respeitam como colegas e tenta até hoje esquecer esses momentos!
Em setembro de 1996, rumo a Inglaterra, a sua amiga e colega de faculdade foi viver para a cidade de Cambridge, rápido casou e gerou dois meninos ativos e ganhou 14 quilos de peso e de ansiedade, rever a amiga e estar num ambiente longe de Portugal seria uma lufada de ar fresco, estava a precisar urgentemente de uma aventura, a sua silhueta tinha aumentado 3 centímetros, não que isso a preocupava mas era um sinal de excesso de trabalho, precisava de andar, passear, rir. Sabia que um casal com filhos e em altura de regresso aos serviços não teriam disponibilidade para a acompanhar, mas na certa era o verdadeiro desejo de Fátima, esta queria estar sozinha e ser ela própria, reconfortava-a a ideia de ficar em casa de conhecidos, quanto ao resto não se preocupava…
Procurou o bar mais próximo com bom aspeto, Ryles, aqui dança-se, bebe-se, conhece-se e reconhece-se muitos portugueses, há música ao vivo, Jazz, muita Salsa, gostos para todos, gentes bonitas e divertidas. Na tentativa de um pezinho de dança, Fátima sente-se observada, olha para essa pessoa e tem uma surpresa, um homem bem constituído, olhos castanhos com pigmento verde-escuro, um olhar como nunca antes visto, um sorriso branco perfeito, um português piloto que vivia há cerca de dois anos naquela cidade, Fátima percebeu que era um homem de palavras fáceis e estruturadas, demasiado seguro de si, mas portador de um perfumo forte de lascas de madeira e notas de sândalo, Davide Roxy, natural de Faro, mãe portuguesa e pai britânico, bons genes, confirmava a Dona Fátima.
3 a.m., retorquiam os amigos de Davide, hora perfeita para pegar na Dona Fátima, já muito sorridente e a levar a uma visita guiada ao seu pequeno apartamento…
- O quarto era pequeno, um single bed, e com umas mãos quentes, beijou-me com firmeza no pescoço enquanto sentia vários arrepios ao longo da coluna cervical.- Ficaram completamente nus... Fátima respirava fundo e sorria, concentrando-se no momento enquanto olhava para a sua pulseira preta de madeira que comprara no México, mal sabia ela que aquela pulseira seria o fetiche predileto do Davide enquanto anos antes visitava as ruas empobrecidas do México. O fascinante Davide adorava peças rústicas místicas e desde que a viu no Ryles a desejava tela nua em sua cama, apenas com a dita pulseira mágica.
(…)
Dona Fátima avistou-o algures mais algumas vezes, embora o ignorando de todas as vezes, certamente ele perceberia a reação, Fátima adorava este novo feeling de uma mulher que usara um homem por puro prazer, seria um gosto adquirido em nome de tantos milhares de mulheres que desde sempre foram usadas como objetos sexuais, seria idiossincrático! Regressou aos Açores com um brilho estonteante na sua pele, reflexos do que vivera intensamente fora do seu ninho, momentos esses que já mais poderiam ser vividos num ambiente tão pequeno e discreto como o do seu habitat.
Contudo, as aventuras das mulheres Fátimas...não terminam por uma noite singular, mas por tantas mais enquanto a imaginação as proporcionar!
(_ Sapatos?-Sei,…são para os pés e ponto!)
Autoria de, Marisa Leonardo
P.S. Esta crónica estará em destaque aqui no blogue até a próxima crónica para dar oportunidade de todos os visitantes lerem e darem opinião sobre a mesma. O seu comentário é importante, PARTICIPE!
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