domingo, 6 de outubro de 2013

Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro!

(imagem retirada da internet) 




A Implantação da República em Portugal


Há exatos 103 anos, a 5 de outubro de 1910, a Monarquia portuguesa terminava com a implantação da República. Contudo, o processo de descrédito da Monarquia tinha raízes anteriores.

No último quartel do século XIX surgiram dois partidos que incentivaram o descontentamento da população, o Republicano e o Socialista. O Partido Republicano defendia a implantação da República, uma descentralização política e económica e a dinamização do poder local. Já o Partido Socialista criticava a sociedade capitalista e a não-aceitação da propriedade privada dos meios de produção. Ao mesmo tempo, a imprensa portuguesa atingia o seu auge, e como o jornalismo estava maioritariamente na posse dos republicanos ou de monárquicos crescentemente descontentes com a política em vigor, a Monarquia era fortemente criticada.

Durante este período, o continente europeu, que conhecera um elevado crescimento económico, apostou na corrida a África e na sua afirmação naquele continente. Para organizar as regras de ocupação de África, realizou-se a Conferência de Berlim (1884-85), que criou um novo princípio: a ocupação efetiva, em detrimento do direito histórico. O princípio de ocupação efetiva defendia que os territórios pertenciam a quem os ocupasse efetivamente, colonizando, desenvolvendo e povoando África. Ora, Portugal defendia o direito histórico, pois era a potência mais antiga em África e, embora tivesse entrepostos comerciais no continente africano, não ocupava efetivamente as suas colónias. 

Portugal tinha pretensões de criar um novo Império em África, daí ter começado, em massa, a sua colonização. Assim, em 1886, Portugal apresentou o "Mapa cor-de-rosa", que não era mais que o projeto que apresentava a desejo português de ocupar todo o território que ligava Angola à costa moçambicana. João de Andrade Corvo iniciou um conjunto de expedições para conhecer toda aquela zona, lideradas por Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto. O objetivo de Portugal chocava com o plano da Coroa britânica de ligar o Cabo ao Cairo. A Inglaterra não reconhecia os direitos portugueses sobre aqueles territórios.

A 11 de janeiro de 1890, a Inglaterra apresentou a Portugal o Ultimatum, uma nota entregue ao Ministro dos Negócios Estrangeiros português pelo Embaixador de Inglaterra em Lisboa (Mr. Petre), onde era exigida a retirada das expedições militares portuguesas das regiões do continente africano que se encontravam sob "proteção britânica". Portugal acedeu ao pedido britânico, embora protestando. A revolta espalhou-se, então, por Lisboa, um milhar de pessoas percorreu as ruas da capital, em protesto à “submissão” nacional”. O governo foi obrigado a demitir-se e foi criado o hino A Portuguesa, da autoria de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, apelando à revolta dos portugueses em nome dos seus antepassados. 

A concessão de Portugal às exigências britânicas foi vista como uma humilhação nacional pelos jovens estudantes que, vinte anos mais tarde, em 1910, viriam a ser os chefes da República em Portugal. O Rei D. Carlos foi acusado de “britanismo” e de subjugação aos interesses ingleses. Portugal, embora tenha desistido do "Mapa cor-de-rosa", assinou, em 1891, um tratado luso-britânico que conferia ao nosso país a soberania sobre extensos territórios, alguns dos quais até então nunca haviam sido reivindicados. Contudo, os ganhos da Coroa portuguesa foram esquecidos, sobretudo porque a propaganda republicana contra a Monarquia, fez do Ultimatum, um desaire e uma humilhação nacional. Importa reter que a mais velha aliança mundial, a existente entre Portugal e Inglaterra desde 1373, tem servido mais os interesses britânicos do que os nossos, mesmo que existam os que achem que não, seria interessante fazer uma análise profunda do interesse dessa Aliança para Portugal…

O Ultimatum britânico marcou uma fase de profundo movimento de descontentamento social e revolta contra o Rei, que marcou o princípio do fim da Monarquia portuguesa. Não podemos esquecer que D. Carlos conseguiu várias vitórias diplomáticas para o nosso país, sendo um símbolo de diplomata numa Europa armada e preparada para a I Guerra, contudo a imagem de submisso aos britânicos foi bem propagandeada pelos republicanos. A 31 de janeiro de 1891, neste clima de descontentamento, dava-se, no Porto, a primeira revolta falhada de derrube da Monarquia. 

Em 1907, o rei D. Carlos formou um governo de ditadura liderado por João Franco, que ganhou fortes inimizades, sobretudo devido ao estabelecimento de censura na imprensa e o envio de presos políticos para as colónias. A 1 de fevereiro de 1908, a Família Real chegava ao Barreiro ao final da tarde, onde tomou o vapor "D. Luís", em homenagem ao pai de D. Carlos, com destino ao Terreiro do Paço, em Lisboa. Desembarcaram, então, na Estação Fluvial Sul e Sueste, por volta das 17 horas. D. Carlos e a família decidiram percorrer a cidade de carruagem aberta. Foi um erro fatal.

O Terreiro do Paço encontrava-se quase vazio. No silêncio daquela tarde, ouviu-se um tiro, que desencadeou um tiroteio. A população começou a fugir. Manuel Buíça disparou e deixou o rei tombado. Surgiu, então, Alfredo Costa que, pondo o pé sobre o estribo da carruagem, ergueu-se até à altura dos passageiros e disparou friamente sobre D. Carlos, matando-o imediatamente. O pânico estava instaurado.

Os regicidas voltaram-se depois para o príncipe D. Luís Filipe que, no momento que ia levantar-se e tirar a arma que tinha trazido, era atingido no peito. Por sorte não morreu, conseguindo, ainda, disparar 4 tiros rápidos sobre Alfredo Costa. D. Amélia gritava por ajuda. Buíça foi, então, travado pelo soldado Henrique da Silva Valente. O Príncipe Real sucumbiu também. Buíça e Costa acabaram, também, assassinados. Já era tarde! O Rei e o Príncipe Real estavam mortos. O Regicídio consumara-se.

D. Amélia saiu ilesa do atentado e D. Manuel sofreu pequenos ferimentos. No meio deste turbilhão, D. Manuel tornava-se Rei de Portugal, o último. O país encontrava-se numa situação de crise, em que a Monarquia era vista como um problema e não uma solução. Enquanto na restante Europa, o choque da morte de D. Carlos foi forte, em Portugal, os Republicanos aproveitaram-se da situação, para se implantar. Era o virar de uma nova página. A primeira medida de D. Manuel II foi demitir João Franco, enveredando por uma política de tolerância e abertura mas, mesmo assim, esta moderação na política foi incapaz de deter o republicanismo. O fim da Monarquia parecia inevitável. 

Na madrugada de 4 de outubro de 1910, alguns populares e um pequeno número de militares revoltados, armaram-se, deficientemente, e foram até ao cimo da Avenida da Liberdade. As forças fiéis ao Rei, quer militares e civis, não mostraram interesse em defender o rei e as instituições monárquicas. O palácio das Necessidades, onde estava o rei D. Manuel II e a sua família, foi bombardeado por alguns navios de guerra que apoiavam o movimento republicano. O Rei e a sua família saíram de Lisboa em direção a Mafra, onde no dia seguinte, partiram para a Ericeira onde embarcaram, rumo ao exílio.

Na manhã de 5 de outubro de 1910, José Relvas, no alto da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, proclamou a implantação da República em Portugal. A República chegou ao resto do país por telégrafo. A Monarquia chegava ao fim sem grandes conflitos, nem mortes. 

A supressão do feriado de 5 de outubro acaba por ser um ultraje aos nossos antepassados, que tanto deram ao nosso país. Devemos manter a memória de todos aqueles que ajudaram na construção do nosso Portugal. Além disso, a atualidade também tem sido marcada por uma grande conflitualidade social crescente. O descontentamento da população face à crise e às medidas de austeridade são cada vez maiores. Era bom que nossos Governantes olhassem para o passado e percebessem que temos de fazer mudanças e cedências para que o país se mantenha unido. No atual estado de crise que vive Portugal, o 5 de outubro deste ano não será feriado, a 1ª vez desde que a comemoração foi criada. Não será um atentado à nossa História esquecer um data tão importante?? Só o que nos faltava era criarmos uma crise de identidade, com base na incompetência governativa…


É preciso viver o passado para construir o futuro!
Francisco Miguel Nogueira


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