quarta-feira, 15 de maio de 2013

Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro!

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A chegada dos Judeus aos Açores 

Há exatos 512 anos, a 22 de maio de 1501, os primeiros judeus expulsos de Portugal Continental aportaram aos Açores, pela Ilha Terceira, oferecidos como escravos a Vasco Anes Corte-Real, 2º Capitão-Donatário de Angra, primogénito de João Vaz Corte-Real, 1º Capitão-Donatário de Angra que soube aproveitar as capacidades judaicas e integrá-los na sociedade. 

Em 1492, os judeus foram expulsos de Espanha pelos Reis Católicos, pois não quiserem converter-se ao catolicismo, a grande bandeira destes reis, que tinham conseguido conquistar Granada neste ano, e expulsar os muçulmanos do seu último reduto na Península Ibérica. Cerca de 60 000 judeus emigraram para Portugal, onde D. João II, O Príncipe Perfeito, abriu-lhes as portas, obrigando-os a pagar 8 cruzados por pessoa e concedendo-lhes, em troca, licença de trânsito por oito meses. Aqueles que não tinham este dinheiro viram os seus bens confiscados para a Coroa e foram-lhes também retirados os filhos menores. Estes foram posteriormente batizados e entregues à guarda de Álvaro de Caminha, que partiu com eles para o povoamento da ilha de São Tomé, onde a maioria não resistiu às condições do clima. D. João II queria, assim, forçar a fixação de operários especializados em Portugal. 

Com a morte de D. João II, sucedeu-lhe no trono o seu primo e cunhado D. Manuel I, que, embora fosse bastante tolerante com os Judeus, publicou, em 5 de Dezembro de 1496, um édito, em Muge, próximo de Lisboa, para a expulsão da comunidade judaica de Portugal, porque pretendia casar-se com a Infanta D. Isabel de Espanha, filha dos Reis Católicos e estes impuseram esta condição para haver boda. D. Manuel I apercebeu-se que a saída dos judeus do País levaria, também, à fuga de capitais do Reino, pois a comunidade judaica era formada por um escol de mercadores, banqueiros, médicos, economistas, ourives, entre outras atividades. Era portanto gente endinheirada. D. Manuel ofereceu barcos para quem quisesse sair do Reino, o que foi feito por poucas famílias abastadas, mas o Rei rapidamente mudou de estratégia. 

Para D. Manuel I, a saída de tanta riqueza não podia acontecer, sobretudo num momento em que a aposta nos Descobrimentos era cada vez maior, e o capital judaico era muito necessário. Assim sendo, D. Manuel I decretou a conversão forçada de judeus, e até de muçulmanos, ao Cristianismo no prazo de dez meses. Nasceu, assim, o conceito de cristão-novo (vs os cristãos anteriores, chamados a partir de então de cristãos-velhos). 

Em 1499, os cristãos-novos foram proibidos de sair de Portugal, mas tinham acesso a cargos políticos, administrativos e eclesiásticos. Além disso, D. Manuel I deixou-os praticar a sua religião de forma secreta, tendo uma política de grande benevolência para com os antigos judeus. Contudo, a diferenciação entre cristãos-novos e velhos era muito grande e estes últimos, impuseram várias perseguições e até massacres, obrigando muitos dos cristãos-novos a sair do país. Estes sentiam-se portugueses de segunda. 

Em 22 de maio de 1501, aportaram à Terceira, vários náufragos cristãos-novos que fugiam à perseguição no Continente. Estes se encontravam numa caravela que se dirigia para África, levando um grande número de judeus. O mar bravio destruiu-lhes o barco e obrigou-os a pedir ajuda na Terceira, provavelmente através do atual Porto Judeu. Vasco Anes Corte-Real avisou D. Manuel I do sucedido e o Rei ofereceu-lhe os judeus como escravos. Assim nasceu a primeira colónica judaica na Terceira e nos Açores. 

Vasco Anes Corte-Real rapidamente compreendeu as capacidades judaicas e o benefício que a Ilha podia receber com tal presença, assim os judeus foram bem acolhidos e tratados como iguais, longe do fanatismo que singrava a capital do Reino. A população cedo começou a entrar em contato com os rituais judaicos, que lhes eram permitidos praticar. Em 1558, a comunidade cristã-nova nos Açores já era grande e estes pagaram 150 000 cruzeiros à regente D. Catarina, avó de D. Sebastião, para prover as armadas da Índia. Em troca, D. Catarina prorrogou o adiamento da pena de confisco de bens aos cristãos-novos por dez anos, deixando-os envolver-se na vida do arquipélago. 

Em 1501, num momento de terror para os Judeus no Continente português, foram bem recebidos na Terceira, onde puderam implantar-se e formar as suas comunidades. Com o passar dos anos, as suas crenças misturaram-se com os costumes locais, fazendo da Terceira um bom exemplo da mistura de religiões, com características muito próprias. 

Num momento de crise, é bom olharmos para estes exemplos e percebermos a importância da tolerância e do apoio às minorias. É necessário respeitar os outros e não utilizar as desculpas dos problemas e da crise para desrespeitar a Liberdade e a individualidade de cada ser. Não devemos ser falsos hipócritas, fingindo ser o que não somos, devemos assumir a nossa personalidade com defeitos e virtudes e respeitar as diferenças. A Liberdade de cada um termina quando interfere na do outro…seja ele quem for. 

É preciso viver o passado para construir o futuro! 
Francisco Miguel Nogueira 


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7 comentários:

  1. Comentário do Dr. João Moniz (Corte Real)
    Décimo quarto descendente direto do João Vaz Carte Real
    Meu Caro Amigo Francisco Miguel Nogueira obrigado por ter partilhado comigo o seu tema: Terceira - a chegada dos Judeus.
    A Universidade dos Açôres está de parabéns pela inclusão do meu caro amigo como novo e dinâmico membro do seu corpo docente.
    A presença Judia na Península Ibérica está documentada desde longa data.
    O Concílio de Orleães, realizado no ano de 538, bem como o de Toledo em 633, já se referem a essa presença.
    Desde a fundação da nacionalidade portuguesa, os Judeus, regra geral, viveram em Portugal, numa certa tranquilidade.
    Os Reis Católicos, Fernando e Isabel de Castela, determinaram a expulsão dos Judeus de Espanha, em 1492.
    D. Manuel I, Rei de Portugal, não querendo desagradar aos seus duplamente sogros, expulsa os Judeus e os Mouros, mas apenas os que não quisessem receber o Baptismo, tornando-se assim cristãos novos, ou moçárabes.
    D. Manuel I, Rei de Portugal, filho do Infante D. Fernando, Duque de Beja, é neto de D. Duarte, Rei de Portugal, Primo e cunhado de D. João II, visto que é irmão de D. Leonor, mulher de D. João II.
    Foi Ayres Gomes da Silva, 5º Senhor de Vagos, irmão de D. Gonçallo Gomes da Silva, Alcaide Mór e Senhor de Abiul, avós de D. Joana Menezes da Silva, mulher de Sebastião Moniz Barreto, 2º Morgado Moniz Corte Real, que escreveu, a pedido D'El Rei D. João II, as suas disposições, onde declarava como herdeiro da Coroa e seu sucessor D. Manuel, Duque de Beja.
    D. Ayres Gomes da Silva e seu cunhado, D. Álvaro de Castro, levaram a notícia ao sucessor escolhido.
    Garcia de Resende na sua crónica, como testemunha ocular, enumera Ayres Gomes da Silva, entre os primeiros que assistiram à morte D'El Rei e diz, inclusivamente, que dos homens do nascimento, da estirpe de Ayres Gomes da Silva, só ele e o Prior do Crato estavam continuamente com o Rei, o assistiam, sem que para chegarem à sua presença fosse necessária permissão, condição "sine qua non", exigida para todos os outros.
    A atitude inteligente e humana de Vasco Anes Corte Real, 2º Donatário de Angra, irmão de D. Joana Vaz Corte Real, mulher de Guilherme Moniz Barreto, primeiros Morgados Moniz Corte Real, muito bem explanada e realçada por si, espelha bem a compreensão e os tradicionais brandos costumes dos portugueses que se manifestaram na miscigenação, que proliferou em todos os territórios pertencentes a Portugal.

    ( a ) João Moniz (Corte Real)

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    1. Sou natural de Vale-de-Linhares, freguesia de S. Bento e até à relativamente pouco tempo existia a Quinta dos Monizes. Eram antepassados seus ???

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    2. Sou natural de Vale-de-Linhares, freguesia de São Bento. Até à relativamente pouco tempo existia aqui a Quinta dos Monizes. Eram antepassados seus ???

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  2. A Terceira bem pode orgulhar-se do seu espírito de tolerância e do seu respeito pelas diferenças!

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  3. Terão estes judeus formado uma judiaria como no continente?ou fixaram-se num local determinado? ou espalharam-se pela Ilha?

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  4. Realmente um assunto que merece toda a atenção !!!

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  5. Realmente com tanta coisa que já li sobre a nossa Ilha, desconhecia completamente esta temática que, verdade se diga, é de todo o interesse desenvolver. Por isso desejo-lhe toda a felicidade (e sorte) nas suas demandas !!!

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