sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro!

Imagem retirada AQUI



António Spínola – Portugal e o Futuro 

Há 38 anos, a 22 de Fevereiro de 1974, o General António de Spínola publicava o livro Portugal e o futuro. A repercussão da publicação foi tão forte que, em pouco tempo, tornou-se num manual essencial na luta contra o Estado Novo. Apenas 2 meses depois, o Regime caía. 


No livro Portugal e o Futuro, Spínola aponta soluções políticas e não militares para a Guerra Colonial, afirmando que a essência da Nação, a segurança física, o bem-estar material e social dos portugueses estavam em grave risco. Esta obra vendeu, em poucos meses, 350 mil exemplares, tornando-se um autêntico sucesso de vendas. 

O General António Sebastião Ribeiro de Spínola, governador militar da Guiné-Bissau durante os anos finais da Guerra Colonial, era um militar exímio e com um profundo conhecimento, conhecido pelo respeito pela individualidade das etnias guineenses, apesar de nunca ter deixado de utilizar todos os meios disponíveis para vencer a Guerra na Guiné, o apelidado “Vietname português”. 

Em Janeiro de 1974, o General Spínola foi nomeado Vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e poucos dias depois saía o livro Portugal e o Futuro, considerado um documento político de grande importância para a consciencialização dos oficiais da necessidade da politização militar. A obra conseguiu a dinamização dos militares mais jovens. O livro lançava um grito de alarme contra o Estado Novo e falava da necessidade de se encontrar uma solução política para as guerras em África, pois estas não tinham solução militar e a necessidade da instauração de um regime democrático em Portugal. 

As teses de Portugal e o Futuro eram também um desafio à política oficial: "estamos numa encruzilhada" do problema ultramarino; "a contestação generaliza-se a todos os sectores", até "à Igreja e à instituição militar"; "resta apenas uma via para a solução do conflito e essa é eminentemente política, a vitória exclusivamente militar é inviável"; "a solução implica a aceitação de princípios, o primeiro dos quais é o reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação. 

Portugal e o Futuro assustou Marcelo Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, que o considerou um verdadeiro manifesto de oposição ao regime e de um golpe militar anunciado. Caetano tentou ainda acalmar a situação, marcando uma cerimónia de apoio ao regime, com todos os Generais dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas, mas visto a cerimónia ser constituída por oficiais idosos, esta ficou conhecida como a Brigada do Reumático. Os Generais António Spínola e Francisco da Costa Gomes, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, próximo de Spínola, recusaram-se em prestar vassalagem ao Presidente do Conselho de Ministros. Dia 14 de Março eram demitidos. 

A 16 de Março, com os ânimos exaltados por toda uma onda de contestação que ganhou forma sob o comando do Tenente-Coronel Almeida Bruno, uma coluna militar do regimento das Caldas da Rainha avançou sobre Lisboa, numa tentativa de derrubar o regime. A tentativa fracassou, mas o espírito de revolta e de luta já estava implantado nos espíritos dos militares portugueses. A 25 de Abril dava-se a Revolução dos Cravos e o fim do Estado Novo, os capitães do Movimento das Forças Armadas (MFA) lideraram a revolução, mas reconheceram a importância do General Spínola, o primeiro Presidente da República do pós-25 de Abril. 

O livro Portugal e o Futuro politizou os militares, que descontentes com a Guerra Colonial, viam na solução política a melhor forma de terminar com ela. O livro consubstanciou o afastamento de Spínola do Estado Novo e o início do fim do Regime. Em apenas alguns meses, a contestação ganhou força e a oposição forma. Portugal e o Futuro abriu realmente um rumo para o futuro do país. 

Hoje em dia, em que estamos em plena crise do regime democrático, precisamos de estar à alerta para a necessidade de não abafarmos as vozes da contestação e da revolta, procurando novos caminhos para a nossa afirmação e pela liberdade. Não podemos deixar que a censura, a falta de liberdade e de direitos voltem a Portugal, o que infelizmente, de forma surdina, vem acontecendo…não podemos deixar de relembrarmo-nos de tudo o que aprendemos e de ressalvar os direitos alcançados pelos nossos “pais” com o 25 de Abril. Praticamente 40 anos depois vivemos tempos de mudança. 

É preciso viver o passado para construir o futuro! 
Francisco Miguel Nogueira 

P.S. Esta crónica estará em destaque aqui blogue para dar oportunidade de todos os visitantes de darem a sua opinião sobre a mesma.A sua opinião é importante, PARTICIPE! 

MEIO CRESCENTE - Ideias em movimento!

6 comentários:

  1. O 25 de Abril foi um dos maiores passos socialistas da História de Portugal, liberdade de expressão, luta pela igualdade e pelos direitos do povo. No entanto, em pleno 2012 encontramo-nos não só em recessão da moeda única e da ecnomia mas sim também em recessão dos princípios defendidos e metas alcançadas com o 25 de Abril. Ora, esta questão começa plo Governo Central e chega a todo o tipo de privados e estruturas fechadas. A liberdade infelizmente acabou quando nos sujeitamos a empregos precários, exploração de horários e a patrões eskizofrénicos, a liberdade acaba quando nos hospitais E.P.E. são contratados os "afilhados" dos chefes das diversas áreas. E a defesa dos direitos do ser humano nessas horas? Quem a defende? Será preciso um novo 25 de Abril? Greves e militares não só à porta da Assembleia da República mas também à porta de cada entidade patronal publica e privada?

    Realmente dá que pensar em reeditar um novo "Portugal e o Futuro" pois este último as vezes trama-nos...

    Obrigada Professor Dr. Mestre Francisco.

    Continua :)

    cumprimentos

    ResponderEliminar
  2. Obrigada por mais este exemplo de verticalidade histórica tão oportuno e apropriado ao tempo que estamos a viver. O 25 de Abril, não foi uma vitória do socialismo, foi uma vitória do povo que encheu de cravos os canos das espingardas bem ao estilo português, povo destinado a espalhar a paz e por isso mesmo abençoado pelos deuses. Em 2012 vivemos uma derrota, a maior de sempre, socialista, provando que esta não é uma derrota de Portugal, mas sim uma derrota de quem usou a politica para interesses próprios e não colocando-se ao serviço da Pólis para que se pudesse viver uma harmoniosa democracia tal como foi sempre desejo do povo. Neste momento qualquer governo não teria oportunidade de fazer melhor tendo em conta o orçamento que o anterior executivo deixou assinado com o sangue dos portugueses. Precisamos de uma nova revolução, mas não de cravos, desta vez precisamos mesmo é de ética, misericórdia e muita coragem, característica que sempre definiu o povo português. Viva Portugal!!! Parabéns Professor Dr.Francisco Miguel.

    ResponderEliminar
  3. Texto interessante e diferente.
    beijos e boa sorte para amanhã.

    ResponderEliminar
  4. Como sempre, o Professor Francisco Miguel Nogueira escreve como mestria textos históricos, sendo empolgantes e nada maçadores.
    Bom trabalho.

    ResponderEliminar
  5. O livro Portugal e o futuro teve um forte impacto no Estado Novo e mudou ideias e pensamentos. É bom relembrar estes momentos que mudaram a nossa História. Gostei.

    ResponderEliminar
  6. Amigo, adorei a tua crónica, em total conformidade c a realidade dos nossos dias... Como sabes, e nomeias na tua crónica, existe ainda uma Direita reacionária,saudosista de outros tempos, q infelizmente,detém poder na nossa fraca "Democracia", ñ só composta pela célebre "brigada do reumático", mas tb por gente jovem q, ou quer manter o "status quo" familiar, ou pretende adquirir prestígio, ascendendo às elites conservadoras do nosso país... Spínola teve a inteligência de reconverter as suas convicções inicialmente ligadas ao Estado Novo e de evoluir vendo a necessidade de mudança para uma adaptação aos novos tempos... Se estamos na situação em q estamos, podemos atribuir culpas à falta de visão dos nossos lideres politicos e empresários, que ñ tornaram o ainda jovem regime democrático em algo real/te proveitoso para o novo país... Optando pelo facilitismo e até enriquecimento ilicíto, proveitoso p eles mas ñ p quase 10 milhões de portugueses, ñ se lembrando q mais de 2 milhões de conterrâneos vivem numa absoluta pobreza, derivada ao desinvestimento no bem estar socio-economico...Infelizmente o nº de pobres e "mal remediados" tende a aumentar a olhos vistos, e nem todo o descontentamento faz diminuir a cegueira colectiva dos q nos governam... A ver vamos no q isto ainda nos vai levar...

    ResponderEliminar