(imagem retirada da internet)
Focar-se no lado mau do stress é como tomar um comprimido para dormir a pensar nos efeitos secundários: vai mantê-lo acordado toda a noite.
Eu tinha ido para a cama à meia-noite. Eram agora duas da manhã. Estava ainda acordado, e em stress, a pensar sobre o meu livro que, ironicamente, é sobre felicidade. Para tentar descontrair, liguei o portátil e comecei a ver vídeos do "The Daily Show". Começou um anúncio a um famoso sedativo que pensei ser ainda parte da sátira; enquanto nos primeiros 20 segundos me prometiam que se o tomasse, adormeceria rapidamente, nos 40 segundos seguintes uma voz tranquilizante disse que, se tomasse o comprimido, estaria também sujeito ao risco de crise convulsiva, ataque cardíaco súbito, alucinações, níveis extremos de ira, engolir a minha língua e até de cometer o suicídio. Depois de um anúncio deste género, eu sabia que se tomasse o comprimido iria ficar demasiado ansioso em relação aos possíveis efeitos secundários para conseguir adormecer.
Percebi que não era uma piada, era um anúncio verdadeiro. E percebi que é exactamente assim que as formações empresariais falam sobre o stress no trabalho.
Nos últimos 30 anos, para que as empresas e funcionários levem o stress a sério, a maioria dos formadores e orientadores têm destacado estudos que mostram que o stress é a ameaça de saúde número um nos Estados Unidos (Organização Mundial de Saúde); que 70% a 90% das consultas hospitalares são devidas a um problema relacionado com o stress (Instituto Americano de Stress); e que o stress está relacionado com as seis principais causas de morte (Associação Americana de Psicologia).
Mas e se ao nos concentrarmos no impacto negativo do stress só o piora, da mesma forma que pensar sobre os efeitos secundários de um comprimido para dormir faria com que eu me mantivesse acordado à noite? E que aconteceria se reenquadrássemos a forma como pensamos sobre o stress?
Para testar esta questão, eu e a investigadora de Yale, Alia Crum, juntámo-nos a líderes na UBS para investigar 380 gestores e ver se podíamos alterar a visão do stress de debilitante para fortalecedor mudando a mentalidade no trabalho.
Como homem de Harvard, normalmente tenho como regra não trabalhar com pessoas de Yale. Mas Crum é muito conhecida pela sua investigação com Ellen Larger sobre consciência e tem estudado a forma como a nossa mentalidade altera a nossa saúde. Uma das primeiras coisas que descobrimos foi que a típica formação empresarial sobre stress parece aumentar, involuntariamente, o stress.
Pense nisto: como é que se sentiu ao ler as estatísticas mencionadas acima sobre o stress, saúde e morte? Em primeiro lugar, mesmo que não estivesse stressado, estatísticas como estas fazem com que reaja ao stress com uma mentalidade de "lutar ou ignorar". O stress é retratado como uma ameaça, por isso precisamos de lutar ou de fugir dele, sobreactivando o nosso compreensivo sistema nervoso. E, em segundo lugar, se já se sente stressado, agora tem ainda mais motivos para se sentir angustiado ao saber que o seu stress está a matá-lo, literalmente. (Boa sorte para adormecer agora.)
Existe uma abordagem alternativa que descobrimos ser muito mais bem sucedida. Crum e eu mostrámos vídeos diferentes, de três minutos, a dois grupos de gestores da UBS. O primeiro grupo assistiu a um vídeo que detalhava todas as conclusões sobre como o stress é debilitante. O segundo grupo viu um vídeo que se debruçava sobre descobertas científicas de que o stress fortalece o cérebro e corpo humano. A última informação é menos conhecida, mas igualmente verdadeira.
O stress pode fazer com que o cérebro humano utilize mais das suas capacidades, melhore a memória e inteligência, aumente a produtividade, e pode até mesmo acelerar a recuperação em situações como uma cirurgia ao joelho. A investigação indica que o stress, mesmo em níveis altos, cria maior resistência mental, relações mais profundas, consciencialização mais elevada, novas perspectivas, um sentimento de domínio, uma maior apreciação da vida, um sentido mais apurado de significado e prioridades reforçadas.
Os resultados do nosso estudo foram significativos: quando um indivíduo enfrenta o stress como fortalecedor, em vez de debilitante, encara a realidade do seu nível de stress actual e usa-o para seu benefício. As partes negativas do stress (angústia, aflição) começam a diminuir, porque a reacção lutar ou ignorar não foi activada, e o indivíduo sente-se mais produtivo e enérgico, assim como revela significativamente menos sintomas físicos associados à angústia (tais como dores de cabeça, de costas, fadiga). Adicionalmente, numa escala de 1 a 4, a avaliação de produtividade passou de 1.9 para 2.6 - uma alteração significativa. O nível de satisfação de vida também aumentou, o que em estudos anteriores foi identificado como sendo um dos grandes factores de previsão de produtividade e felicidade no trabalho.
Motivados por estes resultados, Crum e eu formámos 200 gestores num programa denominado "Repensar o Stress", centrando-nos na forma como se utiliza o stress actual como vantagem no trabalho. O processo envolveu três passos: consciência do stress, determinar o motivo pelo qual se sente stressado, e depois, redireccionar a reacção ao stress de forma a melhorar a produtividade por trás desse motivo. Os efeitos desta segunda experiência foram ainda mais surpreendentes. Não só a angústia diminuiu, como o stress que estes gestores sentiam tornou-se na realidade mais fortalecedor, aumentado a eficiência no trabalho e melhorando a saúde.
A nossa intenção não é provar que o stress é fundamentalmente fortalecedor ou tentar desacreditar a literatura que diz que o stress tem, de facto, efeitos deteriorantes. A nossa intenção é, em vez disso, equilibrar a investigação sobre o stress e destacar que a mentalidade de uma pessoa perante o stress poderá determinar a reacção que será produzida. O stress no trabalho é uma realidade. E este estudo não indica que alguém deve procurar activamente aumentar a carga de stress de outra pessoa. Mas como Bill Belichick, treinador principal da equipa de futebol americano New England Patriots, diz: "É o que é." Algum stress é inevitável. Quando o stress ocorre, pensar nele como fortalecedor em vez de debilitador poderá diminuir os riscos para a sua saúde e aumentar, materialmente, a sua produtividade e desempenho.
Shawn Achor é o fundador da Good Think, Inc. e o autor de "The Happiness Advantage". Em 2006, era professor associado de Psicologia Positiva, o curso mais popular em Harvard nessa altura. Tem um mestrado da Harvard Divinity School e já deu conferências em 45 países para uma grande variedade de públicos, incluindo banqueiros de Wall Street, estudantes no Dubai e CEO no Zimbabué. Solicite uma cópia do seu estudo aqui.
Créditos: Dinheiro Vivo
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