domingo, 27 de novembro de 2011

Crónica 10 minutos - "Amante da sociedade"

(imagem retirada da internet)


O paradoxo: A família ontem e a família hoje!

A versão atual de família reduz-se a um núcleo formado por pai, mãe e filhos. Diferente da de ontem, desde a família alargada, família tronco… No entanto, não deixa de ser diversificada consoante as diferentes etnias! A globalização deu-nos a capacidade de converter séculos em escassos anos de mudanças! Neste sentido, divagamos quanto ao amor e dedicação aparentemente esquecidos do que a Família de ontem nos proporcionava! 

A cada dia que passa, estou mais entulhada de diversificadas tarefas, cada qual parece adquirir particularidades, mas que na verdade estão todas interligadas: “estudar para trabalhar e trabalhar para estudar”! Assim são as disciplinas das Ciências Sociais, cada uma com vida própria, mas que não deixam de sobreviver sem a base científica de cada uma delas. Sou “amante da sociedade”, admiro a multiplicidade de acontecimentos, repletos de constantes mudanças. 

Não há muito tempo, numa conversa entre amigos, discutíamos a atual ligação familiar, falávamos em individualização, projetando-a como se de algo de negativo se tratasse. De facto, a família tem uma dimensão macro e microssocial. São as famílias a razão pela qual empresas apresentam bens que desconhecemos necessitar! Têm deveres/direitos jurídicos, administrativos… Este pensamento obriga, por si só, à existência das famílias em sociedade! 

Mas por que não apresentar os factos de outra forma? Nem tudo precisa de ser tão linear, tão redondo… sem saída… Cabe a nós visionar alternativas! Para começar, aprendi que a individualização familiar dá primazia ao lazer, ao “nós” e também ao “nosso”! Segundo Émile Durkheim, também Pai da Sociologia, na sua obra La Division du Travail Social: “Cada um assume cada vez mais a sua própria fisionomia, a sua própria maneira de pensar.” Os pais de hoje preocupam-se com a formação dos filhos, ensinam-nos a comportar-se como cidadãos, são para eles um equilíbrio emocional. No contexto conjugal, a modificação ocorre quando os membros deste grupo primário deixam de trabalhar em função de um deles e passam ambos a dividir tarefas, visando objetivos e preconizando harmonia conjugal. 

Será que antigamente a família era mais unida? Para além de sermos parte de um grupo familiar, a família é a “semente” da personalidade de cada sujeito e, nessa perspetiva tão pouco linear, o conceito atual de família parece apaziguar-se! Entretanto, recorri a um dos meus rascunhos, vejo sublinhado que Durkheim refere que a família não desapareceu, mas que apenas se modificou e assim continuará! 

O ser humano não sobrevive sem o sentimento de amor e sem o respeito. É imprescindível para todos nós sentirmos que alguém que nos é muito próximo se preocupa quando estamos doentes, quando não atingimos um objetivo, quando as ações não são as melhores… e nos repreendem. Sim, porque a repreensão é também um sinal de amor (não seria parte desta análise subjetiva). 

Com o pensamento de Durkheim a perseguir-me nestes últimos dias, e com o que vejo nestas ruas, depreendo que a família de ontem se regia por tarefas específicas para cada género, camuflando assim o amor fraterno. Teriam, antes, a preocupação de dar continuidade às gerações, às heranças (terras), o que, nos dias que correm, não deixou de se verificar totalmente. Contudo, hoje, a família, que já não é extensa e não se reúne por completo no Natal e na Páscoa, esse agregado familiar que pouco ultrapassa os quatro indivíduos, passou a uma família reduzida, modernizada, sem tão severas regras preconizadas para cada género e mais desprendida dos restantes parentescos. 

Sendo ou não progenitores biológicos, mas cuidando e dedicando-se e incentivando os “papéis sociais” que cada um mais deseja seguir, é igualmente a oportunidade de viver um romance entre cônjuges, entre duas pessoas despreocupadas em tarefas dentro de uma espécie de contrato! E nesta perspetiva, sublinho que o divórcio também deve ser encarado como uma oportunidade de refazer a felicidade e de se refazer uma nova família nos dias de HOJE! O nosso maior defeito é o de olharmos para o passado e deixar a sua marca estática! Somos fruto da mudança, pois não seriamos o que somos hoje, “Homens sem tempo, Homens projetados no amanhã”! E por falar no amanhã… Como será de facto a família? 

(- Sapatos?… Sei! São para os pés e ponto.) 

autoria de Marisa Leonardo


P.S. Esta crónica estará em destaque aqui blogue para dar oportunidade de todos os visitantes de darem a sua opinião sobre a mesma. 
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MEIO CRESCENTE - Ideias em movimento!

15 comentários:

  1. Como seria de esperar...uma crónica bem conseguida e muito interessante e que levanta o véu sobre uma realidade social, a família de hoje!
    Sem dúvida que o conceito de família mudou ao longos dos últimos tempos...anteriormente as famílias estavam mais unidas e ligadas para se ajudaram mutuamente, agora é o próprio núcleo duro que se desenrasca sozinho...perdemos o conceito de família? não acho, apenas modificou-se e numa fase, em que a sociedade é mais individual, em que as relações sociais perdem importância, onde o homem é cada vez mais um "objecto" e menos um ser humano...a família é essencial para recriar uma sociedade menos individualiza e egocêntrica e mais humana e solidária...pois a educação para isso, começa em casa com a vivência familiar...

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  2. Muitos Parabéns :) acabei de ler a tua Crónica “Meio Crescente” e gostei muito! Realmente as famílias de hoje em dia, não tem nada a ver com as de antigamente; a troca de afecto no meio familiar era muito maior e de grande valor; as histórias e tradições contadas pelos nossos avós eram enriquecedoras ♥ ;a forma de educar totalmente diferente , entre outros... Deveríamos dar mais valor e respeitar a nossa família, pois, nós somos «fruto» dela :) são eles que estão sempre ao nosso lado, nos bons e maus momentos...e não nos devíamos lembrar da família apenas nas férias ou em épocas festivas, a família é o ontem, o hoje, o amanhã e sempre ♥ Continua com o teu trabalho, pois, vais muito bem! Parabéns bjm *

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  3. Amigos, agradeço todo o vosso apoio declarado no facebook, no entanto espero aqui uma maior partilha de opiniões! Precisamos de pegar nesses efeitos que vincam no nosso quotidiano e detectar as suas causas. Porque razão existe essas modificações? Serão elas alarmantes?
    De facto temos a necessidade de olhar um pouco mais para “dentro”. E o que é isso de “dentro”? São as nossas emoções, os nossos projectos, as relações, o respeito…A falte de atenção nesses ramos traduz-se em várias problemáticas que não estão a ser devidamente postas em causa por uma atenção exacerbada do factor crise económica…não nos podemos descuidar dessa forma!
    Vamos analisar melhor esses acontecimentos diários e porque não começar com o âmbito familiar?

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  4. adorei :D a medida que crescemos e que percebemos e idealizamos uma familia... e preciso dar valor a nossa tds dias! continua Marisa! bj

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  5. Primeiro que tudo, uma atenção especial à Marisa pela "preocupação" com este grupo que afinal de contas é a génese de uma sociedade... muitos parabéns!
    Segundo, gostaria de partilhar desta preocupação pois penso que a família - ou o espírito partilha, preocupação com o outro, inter-ajuda, respeito, suporte emocional, que a caracterizam - poderá ter/ser uma "solução" para alguns dos problemas sociais: crise económica, civismo, educação,... para isso torna-se premente que cada indivíduo lhe dê esse valor, de forma que depois de consolidado, faça a transposição para os restantes grupos sociais em que está inserido e suas áreas de ação, os princípios inerentes à mesma.
    Nenhum outro grupo social - como a sociedade actual o pretende fazer - poderá incutir num ser humano estes princípios com tanta intensidade como a família!

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  6. Concordo com a essência da cronica....a ideia de família nuclear tem mudado vertiginosamente e ao contrario de algumas teorias mais conservadoras julgo que essa desfragmentação não implica necessariamente uma perca de "qualidade educativa".

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  7. deixo so uma sugestão à autora..sendo que os textos são ja por si opinativos não precisa de na forma escrever tanto na 1ª pessoa "eu", "tive uma conversa" etc...

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  8. D. Cátia, sem dúvida que há medida que vamos amadurecendo, apercebemo-nos das responsabilidades de pertencer a uma família e de formar uma família.
    Dr. Alexandre, também vou de encontro à sua “solução”! São as famílias que consomem e que “produzem”. Saindo já do âmbito económico, se a sociedade olhar para dentro das famílias, estas desenvolverão o país. Parecerá estranho a muitos esta análise, mas é a família a causa destruidora da própria sociedade no âmbito político/económico e educacional, uma vez que cada um de nós que constitui uma família, agimos e escolhemos!!! Serão as melhores atitudes? Serão os melhores gestos? Daí surgiu a minha ideia para esta crónica!
    Gostaria que os leitores reflectissem sobre a família actual, porque nem tudo está perdido como se julga! Penso que é esta a ideia também partilhada pelo Dr. Renato.
    Dr. Renato, memorizarei a sua sugestão.
    Agradeço imenso os vossos comentários!

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  9. Em primeiro lugar quero-te dar os parabéns afilhada!!! Sim concordo com o conteudo da crónica... é claro que o conceito de familia tem vindo a ser modificado, mas a sua essência continua...

    Fátima Simão

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  10. "Os pais de hoje preocupam-se com a formação dos filhos, ensinam-nos a comportar-se como cidadãos, são para eles um equilíbri0 emocional"
    "Será que antigamente a família era mais unida?"
    Peguei nestas dias tuas citações para começar por dizer que estruturas-te mt bem esta crónica muitos parabens sinceros alias só podiam ser pelo que temos conversado embora pouco deu para perceber que estas um bocado acima da média o que me encanta como ja te disse. Agora voltando a primeira citação que copiei quero acreditar que sim mas com as agressões (sentido figurado) e com as influências externas ao nucleo familiar ue hoje há (basta ver que um adolescente passa a maioria das horas fora desse nucleo) por vezes não é o suficiente para que a influência sobre ele exercida tenha preponderãncia sobre a maioria que com ele convive. Fazemos o melhor que podemos e sabemos de resto só nos basta confiar que ele absorveu o sentido e a responsabilidade do sento de familia que todos queremos e desejmos manter.
    No segundo exemplo que retirei do texto acho que o sentido de familia tal como o conhecemos só se começo a formar e a ter algum sentido em meados do sex XIX, após as grandes modificaçõs culturais da revolução francesa e industrialização da europa (Falo aqui da civilização ocidental) e não dos milhares de nucleos existentes por esse mundo fora (por vezes com mt ais sentido de familia tal como hoje se conhece) ate determinada altura a familia como nucleo era uma coisa abstracta só entendida como meio de sobscistência e com maior peso ainda de sobrevivência acho eu mas disso tu sabes muito mais do que eu,
    Comcluindo adorei
    Bjnho Paulo Simões

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  11. Adorei ler a tua cronica.
    Concordo plenamente, a família de hoje é muito diferente da de ontem mas uma coisa é certa, pode ter mudado ao longo dos tempos mas é sempre o nosso suporte, a nossa base, a fonte dos nossos principos e trazemos nas veias não só os genes dos nossos pais como também dos avós, bisavós, etc... Temos semelhanças físicas com um tio por exemplo, o feitio de um primo, as histórias dos avós que são pontos de referência para nós ou seja há sempre uma ligação com outros parentes, não transportamos só o que nos é concedido pelos nossos pais. Por isso a familia não pode reduzir-se só a pais, filhos e irmãos, temos todos os outros.
    É verdade que cada vez mais o ser humano é individualista, é verdade também que o núcleo familiar é cada vez mais pequeno mas não podemos esquecer que o nosso suporte, a nossa base, é a família no seu todo.

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  12. Minha estimada Madrinha, agradeço-lhe não só pelo facto de comentar mas sim por tirar do seu escasso tempo, uns minutos para ler a minha crónica! Sem dúvida, que a essência familiar continua e vai continuar por que nós somos seres frágeis, precisamos de nos sentir amados para aí sim tornarmo-nos em seres capacitados. E Tal como a Sofia (grande amiga e uma das pessoas com sentido critico que tão bem conheço), aponta para as semelhanças físicas que transportamos! Isso levou-me neste preciso momento, a reflectir a preocupação constante que um filho adoptivo sente em “assemelhar-se” a seus pais adoptivos e toda a confusão e turbulência de sentimentos que estes sentem ao perguntar-se: “porque fui abandonado por meus pais biológicos?)
    Dr. Paulo Simões, gostei imenso da sua pertinência, principalmente e sabendo que é pai, quando referiu que só vos resta esperar que os filhos consigam absorver o que lhes foi ensinado! Aproveito apenas para referir que embora ainda muito jovem, acredito fielmente que a educação vem do berço! Muito obrigada pelas suas palavras!

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  13. Família, ainda sou do tempo, em que a família era a ápice da Igreja, e como tal de toda a sociedade.
    Mas uma coisa tens razão, Marisa, o pai da Sociologia, afirmava que esta instituição que é a família não desapareceu, mas sim modificou-se, então ela irá perpetuar-se nos tempos?
    Mas hoje, com o conceito de Globalização, e como as novas políticas, a família tem que purgar, caso contrário não passará de uma quimera futura.
    Parabéns pela crónica, pois esta não será uma efémera, mas sim um crónica que vai perpetuar-se nas nossas memórias.

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  14. Boa tarde a todos, um especial abraço ao Dr. João Araújo e sua esposa, que abdicaram uns minutos das suas rotinas para ler e opinar este modesto trabalho!
    Espero encontrar a todos vós na próxima crónica!

    Com os melhores cumprimentos,
    ML

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