domingo, 13 de novembro de 2011

"Não fui eu!"

(imagem retirada da internet)



Nos primeiros anos de vida, a mentira assume características diferentes da mentira adulta. Compreender a mentira das crianças exige que se compreenda o seu pensamento e a forma como estas veem o mundo. 

' O meu filho de 7 anos tem o vício de mentir, dizendo depois, quando é apanhado, que estava a brincar. Mas faz isso muitas vezes... fico com receio que se habitue a mentir e nunca mais pare.' Cristina Santos, Guarda 

Se o funcionamento humano incorporasse um sistema de reação 'tipo Pinóquio', talvez não existissem mentiras... ou talvez a média do comprimento do nariz humano fosse significativamente maior que a atual. A mentira vive contínua e sistematicamente lado a lado com este complexo ser vulgarmente designado por ser humano. Curiosamente, a mentira nos primeiros anos de vida assume características diferentes da mentira adulta. Compreender a mentira das crianças exige que se compreenda o seu pensamento e a forma como estas veem o mundo. 

Até aos 4 anos não podemos falar em mentira propriamente dita, pois a criança ainda não tem a noção clara do verdadeiro e do falso, do imaginário e do real. Só aos 5/6 anos é que a criança começa a reconhecer o que é certo e errado, dando início ao ciclo da mentira propriamente dita. Para alguns autores, a mentira só assume a dimensão intencional após os 8 anos, sendo o período entre os 6 e os 8 marcado pela distinção entre o verdadeiro e o falso, embora exista confusão entre a mentira e o erro. Aquela célebre frase 'Não fui eu!', que todos nós já ouvimos tantas vezes e já pronunciámos outras tantas, até aos 4 anos, pode ser interpretada como o desejo forte de que aquilo que foi afirmado seja verdade, mesmo quando a culpa é evidente. Para a criança a mentira transforma-se na verdade, acrescentando-lhe pormenores que a tornam mais real e credível. 

Continuar a esconder sistematicamente a verdade após os 6/7 anos poderá ser indicador de sentimentos de ameaça e insegurança. Crianças infelizes encontram na imaginação uma grande segurança, sendo a mentira usada frequentemente para demonstrar a sua superioridade. A mentira pode ainda surgir por diversas outras razões, tais como: necessidade de ser o centro das atenções, desejo de que a realidade seja diferente, desejo de melhorar a sua imagem perante os amigos, evitar dececionar os outros. Mentir pode ainda ser uma forma de obter uma recompensa ou evitar um castigo, funcionando como uma defesa. 

Apesar da mentira infantil não ser indicadora de desonestidade, na idade adulta é importante a atuação dos pais no sentido dos filhos aprenderem o valor da verdade, podendo para isso serem usadas diferentes estratégias: 

A indiferença ou reações violentas face à mentira são desaconselhadas, uma vez que poderão contribuir para que a situação se instale. Conversar calmamente, tentando compreender os seus motivos, fantasias e desejos e investindo na resolução do problema deverá ser a primeira etapa do processo. Esta compreensão permitirá aos pais ajudar a criança a conhecer-se melhor e a recorrer a outras formas de expressão. Mostrar à criança que a mentira só complica os problemas, na medida em que colide com os sentimentos dos outros, e a verdade ajuda-os a resolver é fundamental. 

Se tem a certeza que é o seu filho o responsável por uma dada situação, não lhe pergunte se foi ele, acalme-se e diga-lhe que não ficará zangada, antes pelo contrário, se ele contar toda a verdade. Se ele acabou por confessar a culpa mostre-se realmente contente com o facto. Na tentativa de preservar a confiança na criança dê-lhe o benefício da dúvida até ter provas em contrário. Se a acusação parte de um adulto deve perguntar-lhe se os factos relatados por este são verídicos. Na verdade não nos devemos esquecer de que os adultos também mentem. 

A mentira só é considerada patológica se ocorrer de forma crónica e compulsiva e quando associada a outros tipos de sintomas como: ansiedade, falta de apetite, medo, etc. Neste caso deve ser contactado um psicólogo, pois, quando a mentira é patológica, pode arrastar outro tipo de consequências. 

Créditos: Educare.pt 

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