segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O medo e as crianças

(imagem retirada da internet)



Todas as crianças têm medos que vão mudando à medida que crescem. Estes medos são uma parte importante do seu desenvolvimento e mesmo uma forma de protecção. Aprender a lidar com o medo, uma das nossas emoções primárias, durante a infância, não só é importante como fundamental para nos preparar para situações futuras.

De que têm medo as crianças? Os bebés, entre os oito e os 12 meses, sentem medo de pessoas que não conhecem. E isso nota-se quando se agarram com mais força ao pai ou à mãe, quando se escondem ou afastam. É nesta altura que os bebés começam também a sentir a ansiedade de separação, que pode mesmo transformar-se em pânico, quando a criança deixa de ver algum dos pais. Isto porque para a criança não é claro que o pai ou a mãe voltam. Quando deixam de estar no seu campo de visão, deixam de estar lá para eles. 

Entre os dois e os quatro anos, a criança passa por uma fase de pensamento concreto, ou seja, acredita que o que vê é de facto real. A imaginação das crianças nesta fase é muito fértil e têm grandes dificuldades em distinguir o real do imaginário, o que acaba por criar gerar alguma ansiedade. É nesta altura que podem ter pesadelos que os levam a acordar em pânico. Cabe aos pais fazê-los perceber que se tratou apenas de um sonho, que não era real e deixar que sintam que vão ficar até que voltem a adormecer. 

Aos dois anos a criança é capaz de criar imagens mentais de pessoas, animais, mais assustadoras do que a realidade. O urso fofinho que durante o dia está no quarto e não coloca qualquer tipo de perigo pode, à noite, transformar-se num animal assustador.

O importante é não brincar com os medos da criança porque, para ela, eles são muito reais. Gozar, do tipo “não sejas bebé”, só impedirá que a criança partilhe os seus medos consigo e só fará com que fique mais aflita. É afinal dos pais que esperam a protecção de que necessitam. 

Importante é também passar a mensagem de que não há problema em ter medo, nem falar sobre eles quando isso é perturbador. Afinal, quando eram pequeninos, o pai e a mãe também tinham medos. Não é preciso dar demasiado ênfase à questão, mas mostrar empatia com o seu filho.

Os medos da criança vão mudando com a idade e o que pode ser o medo de uma criança pode ser o fascínio de outra.

Até aos seis anos ainda é muito comum a criança ter medos de fantasmas, monstros. Mas é também nesta altura, entre os cinco e os 12 anos, que começam a aparecer medos mais reais, como medos de tempestades, de alguma coisa má que lhe aconteça ou aos que rodeiam a criança.

Tudo isto gera um nível de ansiedade muito grande que pode ser exteriorizado de diferentes formas, nomeadamente sentindo-se mais impulsivo ou distraído, com tiques, mãos transpiradas, dores de cabeça, de estômago.

A criança ou o jovem pode não querer dizer que está com medo de que algo lhe aconteça ou a alguém que ama, um avô, tio, tia, mas o mau estar interior vai reflectir-se ao nível das reacções corporais que convém não descurar. 

Para os pais é muitas vezes complicado perceber o que fazer perante os medos dos filhos, medos de coisas que parecem tão insignificantes. Tente relembrar-se da sua própria infância e do medo terrível que tinha, por exemplo, de um insecto, e de como isso o deixava em pânico. O mesmo se passa com o seu filho. Respeito esse medo, não o force a confrontá-lo, acredite que é real e, acima de tudo, não o goze por isso.

Ao respeitá-lo e ajuda-lo nesta fase da sua vida está igualmente a ajuda-lo a tornar-se um adulto mais saudável.

Zélia Parijs, psicóloga

Créditos: Em Letra Miúda

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