domingo, 4 de dezembro de 2011

As crianças e a morte

(imagem retirada da internet)



Falar sobre a morte com uma criança é algo que deixa sempre os pais aflitos pelo simples facto de quererem poupar os filhos a algo triste. Muitos pais evitam mesmo fazê-lo e, quando questionados pelos filhos, acabam por mudar de assunto. As crianças vêem a morte todos os dias, em todos os lados, na TV, nos livros. 


Se a criança levantou o assunto é porque algo a despertou para o mesmo, há uma curiosidade que não deve ser ignorada, mas sim aproveitada para explicar o que é a morte. Neste assunto, como em tantos outros, a criança não quer saber tudo, por isso é melhor perguntar-lhe o que gostaria de saber sobre a morte. Vai perceber quais podem ser as dúvidas que têm, sem sentir que terá de ter uma grande conversa sobre algo de que não lhe agrada nada falar. 

Falar sobre a morte permite aos pais perceber quais as dúvidas, preocupações, receios, ideias erradas que os filhos possam ter. Não falar do que nos assusta ou preocupa não é a melhor solução. As crianças percebem e, depois, com receio de entristecer os pais não perguntam. 

Contudo, ao responder às questões dos seus filhos vai também estar a prepará-los para o futuro, porque, ainda que não o queira admitir, mais cedo ou mais tarde pode acontecer entre aqueles com quem convive e o choque pode ser muito maior para a criança. 

Pode ser-lhe contudo útil perceber de que forma é que a criança vai absorvendo o conceito da morte em função da idade e isso pode igualmente ajudá-los a não estar tão ansiosos quando questionados sobre este assunto pela criança. 

Assim, podemos começar pelas crianças mais pequenas, entre os 3-5 anos. Para quem tem filhos desta idade vai perceber que eles de facto não compreendem o conceito da morte. Para estas crianças a pessoa “foi embora” e, por muito que custe aos pais, é normal perguntarem com frequência quando volta. Não nos podemos esquecer que muitas vezes os próprios desenhos animados que a criança vê neste idade os bonecos morrem e depois já estão outra vez vivos. Assim, para uma criança desta idade a morte é algo impessoal, reversível e temporário. 

As crianças com 5-6 anos têm igualmente dificuldade em entender a morte como algo que acontece a todos, permanente e inevitável. Mesmo quando alguém próximo morre não entendem a morte como algo que lhes pode acontecer também. 

Também a forma de responder e lidar com a sensação de tristeza dos que os rodeiam varia de idade para idade, sendo que as crianças mais pequenas podem regredir nalguns comportamentos. Há que estar atentos. 

Entre os 6 e os 10 anos, os miúdos já começam a ter uma melhor compreensão sobre o conceito da morte, têm noção de que todas as coisas vivas morrem, já é algo que vêem como mais pessoal. 

À medida que progridem até à adolescência, os jovens começam a questionar-se sobre a morte, a tentar perceber o seu significado. Nesta fase, há uma tendência para filosofar sobre as questões da vida a da morte. Muitos adolescentes reagem ao seu medo da morte tomando riscos desnecessários, como uma espécie de desafio. Muitas vezes vêm isto como uma forma de controlar a sua própria mortalidade. 

Como explicar a morte às crianças? 
Tente não fugir às perguntas; diga sempre a verdade; dê respostas breves e simples (quando alguém morre o corpo deixa de funcionar, não come, não dorme, mas também já não tem dores). 
  • Expresse as suas emoções 
  • É importante explicar que os adultos às vezes precisam de chorar porque se sentem tristes e com saudades de quem morreu, e não há problema por isso. 
  • As crianças apanham facilmente a sua mudança de humor e percebem que algo não está bem. Não tente esconder, pois ao fazê-lo só lhe está a criar mais angústia.
  • Há coisas que deve evitar dizer, como: está a descansar, está num sono eterno, foi-se embora. Isto numa criança só vai servir para lhe criar medos de que um dia o pai ou a mãe não apareçam, ou mesmo de ter medo de ir dormir e não acordar. 
  • O que para os adultos faz todo o sentido, não faz da mesma forma para a criança que tem a sua própria forma de interpretar o que lhe é dado. Daí a necessidade de ser o mais claro possível. 
  • Por vezes a criança faz uma pergunta que pode perturbar os pais, pode parecer mesmo insensível, e que é “quando é que tu (pai, mãe, avós) vais morrer?” 
  • Não se pode esquecer que as crianças pequenas vêem a morte como algo temporário, mas percebem que a morte pode significar a separação dos pais, avós, dos que ama, e isso deixa-os apreensivos. 
  • O que na realidade a criança quer saber é se vai estar lá para cuidar dela. E deve dizer-lhe exactamente isso, que vai cuidar dela ainda durante muito tempo. 
As reacções da criança 
  • A criança pode sentir-se triste, mas também muito chateada ou culpada. Por vezes, sente que por que se portou mal aconteceu algo de mal a quem ama. É importante que ela sinta que, de facto, nada do que fez ou disse levou à morte de alguém. 
  • A criança pode também regredir (nomeadamente voltar a chuchar no dedo, na chupeta,etc), pode tornar-se demasiado dependente ou simplesmente ficar muito activa porque não sabe lidar com a sua dor.
  • É importante que deixe a criança decidir como faz o seu luto. Ela pode chorar ou não. 
  • É importante que mantenha as rotinas, quanto mais depressa o fizer melhor para a criança. As rotinas dão às crianças uma sensação de segurança muito importante depois de um acontecimento marcante. 
  • Uma questão que preocupa muito os pais é o funeral, deve ou não a criança participar. É importante perceber que aquilo que se aplica aos adultos também pode aplicar-se às crianças, ou seja, o funeral é um momento de despedida e por isso a criança deve ter oportunidade de ser questionada se quer ou não despedir-se de quem morreu. 
  • Claro que para crianças pequenas, até aos 6-7 anos, será melhor os pais ajuizarem da necessidade destas se despedirem ou não de quem morreu, isto claro sempre no caso de pessoas muito próximas. A partir desta idade pode perguntar à criança o que gostaria de fazer. Nenhuma criança deve ser obrigada a ir a um funeral se não é essa a sua vontade. 
  • Igualmente importante é antecipar aquilo que a criança vai ver no local onde se desenrola o funeral. Explicar os rituais que envolve, de uma forma simples, para não ser um choque. Devem igualmente ser evitados os momentos em que esteja demasiada gente. Procure um momento mais calmo para a criança poder absorver o momento sem se sentir pressionada por todo o ambiente pesado habitual nestas ocasiões. 
  • Falar de algo tão complexo como a morte com as crianças pode tornar-se muito desconfortável quando sentimos que não temos todas as respostas. Em especial as crianças mais pequenas esperam que os pais saibam tudo, só que acontece que este é um assunto com o qual mesmo os adultos têm dificuldade de lidar. 
  • Para isso, basta aproveitar as oportunidades que vão surgindo, quer no dia a dia, por exemplo com um pássaro morto, uma mosca, até aos filmes de banda desenhada que as crianças vêem, nomeadamente o “Rei Leão”, que aborda o ciclo da vida, acabando por ter também a morte por tema. 
  • Não complique, mantenha as coisas simples, mas sempre o mais verdadeiras possíveis. Vai sentir-se melhor e vai dar a confiança necessária ao seu filho. 
Zélia Parijs 
Créditos: Em Letra Miúda

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