quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A linguagem e a criança - Parte 6 (Final)

(imagem retirada da internet)


A erudição da linguagem depende, principalmente, do tipo de linguagem utilizado pelo pai. A mãe, neste campo, tem uma menor representação, o que se compreende, dado que o «pólo mãe» é o componente regressivo, e o «pólo pai» o componente de ousadia e crescimento. Resultado, se as mães podem (dentro de certos limites) falar «à bebé», convém aos pais ter uma linguagem correta e rigorosa, rica e complexa (sem ser preciso falar como escrevia Aquilino ou Agustina…). 



TERAPIA DA FALA 
Ainda há pessoas que acham que a intervenção dos terapeutas da fala só se justifica para corrigir defeitos de pronunciação ou de dicção. Mas terapia da fala é algo de mais vasto: uma terapia da comunicação, que passa pela articulação das palavras, mas também pela expressão, pela linguagem vista de um modo global, e da identificação e correção de perturbações auditivas, visuais, cognitivas, musculares, respiratórias, deglutição e voz. 

A terapia da fala inclui diversas vertentes
  • fala (articulação, entoação, ritmo, sonoridade);
  • linguagem (fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, pragmática);
  • linguagem recetiva e expressiva (escrita e leitura);
  • comunicação não verbal (expressão facial, mímica);
  • problemas de deglutição e respiratórios condicionados pelos primeiros. 
A FACE OCULTA DA LUA 

Crianças são pessoas. E embora o ditado diga, que «quando um burro fala os outros baixam as orelhas», o verdadeiro significado é o contrário: baixam as orelhas de respeito, mas levantam-nas para escutar melhor. E ouvir e escutar não são a mesma coisa. 

Interromper uma criança que se está a tentar expressar, seja por impaciência, desinteresse ou para lhe acabar as frases é humilhante e castrador. Às vezes demoram e demoram, enganam-se, não sabem bem como terminar, mas despachá-los é errado. E não os vai estimular a falar – com ouvintes pouco atentos qualquer esforço será um desperdício. Tentem ajudá-lo a retomar o fio à meada, caso ele se perca – «estavas a dizer que...» -, mas sem terminar a frase. 

Por outro lado, quando dizemos alguma coisa escolhemos o que vamos dizer. Não apenas as palavras, mas a informação, os sentimentos. Escolhemos criteriosamente o que vamos comunicar ou esconder. O que expomos e o que reservamos. As crianças não são diferentes. E é importante – em qualquer idade - perceber o que está nas entrelinhas e que não chega a atingir a comunicação verbal. É como a criança que se aproxima da professora, no fim da aula, deixa as outras saírem e diz: «Há uma coisa...». Porventura quer contar que foi molestada sexualmente, mas se a resposta for: «agora não tenho tempo, falamos depois um dia», a oportunidade perder-se-á para sempre. Há que ter em atenção que os assuntos mais difíceis são veiculados com uma linguagem cifrada e enigmática. 

Ouçam o vosso filho, mas escutem-no também. E escutá-lo é ouvir o que diz e o que não diz. Muitas vezes mais isto: o que quer dizer, mas para o qual não tem palavras, expressões ou maturidade. 

Créditos: Revista Pais&Filhos

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