sábado, 24 de dezembro de 2011

Crónica 10 minutos - "Amante da sociedade"

(imagem retirada da internet)



Neste Natal, Ofereça Atenção aos seus Idosos!


Você alguma vez teve a sensação de que é o único a conhecer pessoas estranhas e outras fantásticas? Pessoas que atravessam a rua de propósito para ajudar a pegar num saco de compras aparentemente pesado, que um velhote carrega ao mesmo tempo que vai coxeando de uma perna! Outras, que se for necessário empurram um deficiente motor, pois simplesmente querem se despachar a comprar o donut! 

Pessoalmente, admiro imenso a Zenilda, quando ela passa atrevo-me a ver o seu traje! Hoje está de gabardine xadrez azul-marinho com encarnado e o seu calçado mais parece as pantufas do Pai Natal! Mas tudo nela fica bem, é elegante, sorridente, parece-me divertida e sei que tem um espírito analítico, suponho como todos os jornalistas naturalmente o tenham! Raras são as vezes que converso com Zenilda, mas já me apercebi que a mesma se aborrece quando está fechada no gabinete partilhado com três colegas, sendo um deles, não muito chegado aos tops fashion de moda, mas que ironicamente lhe chama a atenção! Talvez, porque o pobre mal consegue concentrar-se no que faz, todas as vezes que ela cruza a perna ou quando os seus cabelos ondulados lhe realcem os lábios e os seus olhos castanhos! 

Esta jovem mulher, para além de poderosa é humilde, Zenilda só se sente bem quando sai à rua e confronta os “Senhores” com todos os podres do quotidiano que tanto fingem desconhecer! 

- Sabe o que mais me aborrece no Natal? - Questiona-me, apanhando-me de surpresa enquanto me sento num banco do café no final de tarde. - Detesto ver por aí pais que mimam em demasia os seus filhos com ofertas inúteis e não lhes ensinam a respeitar os seus avós! Sim, porque esses apenas servem para cuidar dos netos enquanto o papá e a mamã estão a trabalhar, mas quando os pais chegam a casa nem agradecem aos seus “cotas” o cuidado que tiveram num dia inteiro com os pirralhos! Antes pelo contrário, são capazes de discutir e de os humilhar pelo simples facto de não permitirem que a menina use o colar da mamã porque gosta de brincar com as pedrinhas coloridas! 

Nem respondi, porque não me deu essa oportunidade, bebeu o sumo de pêssego num gracejo e foi a praguejar pela porta fora do café! Se alguém se apercebesse da cena nesse momento, certamente pensaria que tínhamos discutido! A Zenilda nessa semana investigou para a redacção os problemas que os idosos enfrentam diariamente, os idosos são submetidos à humilhação profunda, são vistos como incapazes, não são alimentados devidamente, pois quem usa as suas reformas para as despesas dos restantes membros familiares, apenas retiram uma pequeníssima parcela para a medicação! E o fazem, pois ficam melhor calados do que a queixar-se das articulações! 

Caros leitores, em que situação se encontram os vossos avós, os vossos cotas, os vossos tios sem descendentes? São eles vítimas dos vossos maus tratos? São eles os discriminados nas periferias com pouco mais de duzentos euros mensais, em que a sua única companhia são os pingos da chuva na cabeceira? 

Amigos, perante o estudo da Gerontologia, enfrentamos agora o disparate de distinguir os reformados dos velhos! Como se uma dessas duas opções não fosse discriminatória! Mas só o facto de determiná-los como conceito, já se traduz numa atitude de repulsão! E isto torna-se numa maior agravante! 

Vamos cuidar dos nossos! A população idosa está distribuída por todo o país, enfrentando as mais diversas discriminações, como a violência doméstica e a perda da sua autonomia! Onde estão as devidas medidas políticas e a solidariedade social? 

Neste Natal, Zenilda certificará que para além do menino mija (tradição na ilha Terceira, as pessoas visitam amigos e familiares para provar as iguarias regionais como as donas amélias, acompanhando com licor, martini, creme de whisky), aproveitará para visitar os cotas amigos e familiares, que tanto lhe ensinaram! 

E Não se esqueçam que…Atrás de Tempo, …Vem tempo! 

- Feliz Natal! 

Pensamento Final: 
Convido-vos a viajar nas minhas Histórias que contam as histórias correntes da vida, contudo, cabe a cada um de vós identificar as personagens! Para si, quem é a Zenilda? 

(- Sapatos? -…sei! São para os pés e ponto.) 
ML 

P.S. Esta crónica estará em destaque aqui blogue para dar oportunidade de todos os visitantes de darem a sua opinião sobre a mesma. 
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MEIO CRESCENTE - Ideias em movimento!

5 comentários:

  1. Mais uma vez um tema pertinente nesta quadra que atravessamos!!!
    E logo hoje vi uma notícia num jornal de um filho com 35 anos que bateu no seu pai de 61 anos, na noite de consoada. Apesar de estar alcoolizado não deveria de ser a primeira vez que tal aconteceu. E, apesar de tudo, o pai não quis apresentar queixa! Teve de ser um outro filho. Sinais do nosso tempo, enfim.
    Voltemos ao tema em consideração.
    O tratamento que a nossa sociedade faz às pessoas mais idosas é um reflexo da nossa sociedade. Se o tratamento entre as pessoas é o que é com o egoísmo e o interesse próprio a ser o pão nosso de cada dia não admira que "as pessoas que já não têm interesse" sejam marginalizadas e ostracizadas por essa mesma sociedade. Enquanto tiverem algo que interesse, seja bens, dinheiro ou outras coisa de interesse, até pode ser que haja "interesse" mas assim que os objectivos egoístas são atingidos é esquecer para não se perder mais tempo!!!
    As pessoas mais idosas são pessoas com uma experiência de vida que normalmente não é aproveitada. Ouvem-se falar de algumas experiências mas uma integração efectiva não está nos planos! Tanta coisa se pode aprender com elas. Haja interesse e vontade.
    E quanto à Zenilda...... Cada um terá a sua consciência ou até alguma amiga que lhe farà lembrar a Zenilda!!!

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  2. Caro Rui, realmente deparamo-nos cada vez mais com agressividades para com os idosos. Mas para além da agressão física, preocupa-me a agressão psicológica para com eles, uma vez que é a mais frequente! Os Idosos, ouvem constantemente que são incapazes, que não fazem nada de jeito, que não sabem o que dizem…os próprios sentem-se inúteis nas suas actividades diárias! È essa desvalorização que me põe a pensar se no futuro seremos nós a levar com tais consequências pelos nossos descendentes!
    Por isso, temos que repensar sempre que necessário em todas as nossas atitudes e questionarmo-nos se “amanhã” queremos o mesmo para nós!
    Quanto á Zenilda…sim, penso que todas as pessoas conhecem uma Zenilda de perto ou já passaram por ela. Ou então, quem sabe se alguma Zenilda esteve a ler esta crónica? Espero que sim! Pois desta forma é um sinal que existe mais pessoas que se preocupam com o próximo!
    Beijinho! :)

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  3. Gostei da cronica, mesmo que a perspetiva analítica possa ter uma visão muito própria e talvez se note uma falta de observação generalista. Importa referir que a falta de uma politica social credível e também no campo educacional, é que proporciona muito do sentido desequilibrado existente na nossa sociedade. É no contexto de político que é urgente intervir.
    Julgo quando pergunta – “Onde estão as devidas medidas políticas e a solidariedade social?” – coloca o dedo na ferida, se bem que a solidariedade social, só avança se a base política social e educacional existirem. Não se pode ter solidariedade social eficaz sem as outras medidas de base. Quanto á criação da personagem da Zenilda, é uma boa forma de articulação de abordagem, mas talvez Lhe falte alguma concretização mais profunda dos diversos problemas do quotidiano e apontar as anomalias de raiz.
    Em relação ao ultimo período, onde comenta o Natal e fala da tradição terceirense ( ???), parece-me muito superficial e sem fundamentação histórica, misturando martini, creme de whisky, com a caracterização verdadeiramente natalícia, quer dos latinos ( países do sul da Europa e mesmo doutras paragens. Nunca convém misturar alhos com bugalhos. Não poderia deixar de expressar esta posição ao ultimo período, de resto até acho que a abordagem da temática do artigo, está BOA.
    mário

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  4. Sr. Mário, foi com muito agrado que li a sua crítica bem elaborada. Agradeço a sua sinceridade e espero melhorar com a sua ajuda e que igualmente perceba o fluxo das minhas ideias!
    A vida social é uma clara representação que por sua vez, é interpretada por todos nós e nesse sentido questiono-me quanto aos valores morais de cada um, independentemente da sua etnia, porque de certo é de conhecimento mundial o respeito, a educação que aprendemos com os pais com os avós, os professores mais rígidos, com os catequistas…
    Sim, é verdade! Seria mais fácil seguir as pegadas das correctas medidas politicas com as responsabilidades que deveriam acarretar e para tal, não ocorreria corrupção!!! Lamento que a maioria julga que só pode agir quando os superiores assim o permitam!
    A vida é repleta de transformações de existência colectiva, no entanto, em âmbito orgânico cabe a cada um de nós, melhorar os desequilíbrios da sociedade!
    Sr. Mário, eu e a Zenilda aguardamos a sua visita no próximo domingo! Um Feliz ano Novo.

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  5. Grato – Marisa Leonardo gosto da sua resposta.
    Espero que o 2012, que é bissexto, Lhe traga alguns dos seus objectivos e também momentos de felicidade (digo momentos, porque a felicidade é quase sempre passageira … por isso devemos aproveitar quando ela surge) Quanto á Zenilda, sugiro que ela possa ir uns dias á Somália… e nos conte as inúmeras dificuldades que passam os que lá vivem…
    Solidariamente
    mário

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