sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Crónicas 10 minutos - Viver o passado para construir o futuro! (6ª crónica)

Imagem retirada AQUI


Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul injustiçado 



Aristides de Sousa Mendes foi um dos maiores exemplos de respeito pela integridade humana da História recente do Mundo. Na sua ação política, prevaleceu a imagem de um homem que pôs de lado a sua individualidade e dispôs-se a trabalhar em prole do salvamento de milhares de pessoas em risco. Também foi contra as ordens do seu superior, desrespeitando as instruções de Oliveira Salazar, e que acabou por sofrer as duras consequências do seu acto. 


Corria o ano de 1940, a Alemanha nazi avançava sobre a Europa Ocidental, milhares de pessoas fugiam do III Reich e dos campos de concentração de Hitler. É neste cenário de guerra e de crueldade humana, que surgiu Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus. Diplomata e com passagem por embaixadas importantes, Aristides de Sousa Mendes foi convidado por Salazar a dirigir o consulado em Bordéus. 

Quando rebentou o conflito mundial, Sousa Mendes recebeu do Presidente do Conselho de Ministros, assim como todas as embaixadas portuguesas, a Circular 14, na qual Salazar ordenava que os consulados recusassem passar vistos a "estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos”. Mesmo com ordens superiores, Sousa Mendes começou a passar vistos e recebeu advertência de Salazar. Segundo se diz, terá exclamado: "Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus". Assim, Sousa Mendes iniciou um caminho sem volta e entre 20 e 23 de Junho de 1940, com a ajuda da família e de alguns colaboradores, passou mais de 30 mil vistos, sendo 10 mil para judeus. Com o armistício francês a 22 de Junho de 1940 e a pressão do Governo português, Aristides saiu de França, mas no percurso para Espanha, continuou a passar vistos a todos aqueles que pediram ajuda. 

Na chegada a Lisboa, Aristides foi privado, por um ano, de exercer as funções de diplomata, sendo o seu salário reduzido a metade e, ao fim daquele ano, foi enviado para a reforma, com ¼ do salário, ou seja, Aristides começou a passar necessidades, pois era chefe de uma família numerosa. A comunidade judaica de Lisboa foi o seu apoio e alento durante estes anos, tendo os filhos dele, partido para o estrangeiro e feito carreira por lá, sendo que dois deles participaram no Desembarque da Normandia. Nos anos seguintes, Aristides de Sousa Mendes tentou recuperar os seus direitos, mas Salazar jamais podia aceitar que um funcionário seu fosse contra as suas ordens e não sofresse, com isso, um exemplar castigo. O “Cônsul injustiçado” morreu a 3 de Abril de 1954, na mais absoluta miséria. 

Em 1967, Aristides passou a ser o único português a fazer parte dos Righteous Among the Nations (Justo entre as Nações), no Yad Vashem Memorial em Israel, além de ter uma floresta com seu nome no estado israelita com 10 mil árvores, o número de judeus que salvou. Em Portugal, só em 1988, teve seu nome reabilitado. A Associação dos Diplomatas Portugueses criou o Prémio Aristides de Sousa Mendes para a investigação anual de política internacional mais relevante para as relações externas portuguesas, em sua homenagem. 

Aristides de Sousa Mendes desrespeitou as ordens superiores, porque decidiu que o valor real da vida humana era mais importante que a política, um princípio cívico que hoje não praticamos e continuamos a esquecer diariamente. Criticando ou não a sua posição de contrariar Salazar, que era o Presidente do Governo do seu país, a realidade é que Aristides salvou mais de 30 mil pessoas e manteve a sua posição até ao final dos seus dias. Atualmente, o valor humano perdeu força, há um grande desrespeito pelo “outro”, pelo apoio e inter-ajuda, as pessoas deixaram de conviver por amizade, mas por interesse, parece que os valores perderam o seu rumo e, ao analisar a vida deste “Grande Português”, percebemos que é importante pararmos e darmos valor a quem nos rodeia, valorizar as relações humanas…olhar para os outros com “olhos de ver”. 

É preciso viver o passado para construir o futuro! 
Francisco Miguel Nogueira 

P.S. Esta crónica estará em destaque aqui blogue para dar oportunidade de todos os visitantes de darem a sua opinião sobre a mesma. A sua opinião é importante, PARTICIPE! 


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25 comentários:

  1. Sim, senhor, ora ai está um homem de principios e de grande moral.. infelizmente, é como dizes, hoje em dia nao ha grande respeito pelo "outro", a grande maioria das pessoas, actualmente, só tem interesse pelo seu proprio umbigo...
    Tens de publicar mais bons exemplos, como este! ;) bjinhos

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  2. Já tinha ouvido um documentário na tv sobre este Senhor:) realmenta a história dele é apaixonante:) Felizmente existe sempre gente boa no meio da desgracia:)
    Mas em relação à tua crónica está mt bem:) como sempre;)
    E tens toda a razão os nobres valores andam a perder-se numa sociedade cada vez mais desorientada e apenas focada nos bens materiais... Infelizmente é essa a realidade:(

    Não sei se existe, mas senão um filme sobre essa dignissima pessoa era mt bom!
    E continua sempre a instruir-nos:)

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  3. Conhecia pouco da vida do Aristides e fico-te agradecida por contares a vida deste "Grande Português", infelizmente, como bem sabes, Portugal não respeita os seus "Grandes", apesar de serem reconhecidos fora da nossa nação.

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  4. Agora a amizade é ao lucro e aos mercados, as pessoas são números e ensina-se e incentiva-se, desde cedo, o individualismo absoluto e a concorrência desmedida,as relações são virtuais e entrou-se numa expiral de total desrespeito ao próximo.. está na moda tratar toda a gente por "tu", mas ñ numa dinâmica de amizade ou próximidade, mas de total desrespeito pelo próximo, ultrapassam-se limites facilmente e ñ se respeita o espaço de ninguém.. Aristides Sousa Mendes, ñ foi o único diplomata português do tempo da II Grande Guerra, reconhecido e respeitado internacionalmente,até na maior Sinagoga da Europa, em Budapeste, existe um monumento da memória com os nomes de todas as personalidades q ajudaram à fuga de Judeus do destino mais certo às mãos dos Nazis, onde consta Aristides S. Mendes, mas tb outros portugueses, completamente desconhecidos da maioria do público português, e vi a gratidão estampada nos olhos de pessoas da comunidade judaíca, com quem tive opurtunidade de falar, essas sim c memória e mais gratas a cidadãos portugueses do q nós próprios, povo ignorante e de fraca memória.. Mas Aristides S. Mendes foi o ex libris máximo de humanidade num país tão fechado pela ditadura e sem qqr sentido de moralidade no sentido lato, pois não é suficiente definir-se Cristão Católico, é preciso praticar os preceitos da religião... E essa sempre foi uma das grandes falhas de um País q se dizia e diz tão conservador e bom cristão...

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  5. Excelente escolha, a desta figura verdadeiramente extraordinária da nossa recente História, para tema das suas crónicas. Aristídes de Sousa Mendes não hesitou em pôr em risco a sua subsistência e a sua própria vida e dos seus familiares. Portugal tem de se sentir honrado por ter tais filhos !
    João Moniz

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  6. Estimado primo Francisco, já te tinha ouvisto a falar deste tão nobre senhor Aristides de Sousa, mas desconhecia toda a sua bravura. Sublinho a tua opinião de que os valores se perderam, ou ao contrário do que julgamos, os valores não se perderam mas estão por aí com receio de serem apedrajados. Porque quando tomamos conhecimento de Homens que lutaram com o povo e não contra o povo, as opiniãos são unânimes! Todos desejamos o melhor e desejamos que alguém de “cima” grite e que exiga por nós! Quem sabe, se tu com toda a tua pericia não serás um dos futuros Homens a proclamar na voz do povo!

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  7. "pôs de lado a sua individualidade e dispôs-se a trabalhar em prol do salvamento de milhares de pessoas em risco"

    Bem é deste tipo de carácter que necessitamos no nosso governo! É de um aristides no lugar de um Passos Coelho que desobedecesse ao Salazarista do Miguel Relvas!!!

    Portugal perdeu, após a Revolução do 25 de Abril, muitos homens de carácter como Aristides Sousa Mendes. Eram homens e tornaram-se ratos!
    Eram lutadores e por isso temos a História grandiosa que temos. Agora são ratos e estamos metidos no lixo para as agências de rattings! Só temos toupeiras lutadoras da prórpia carteira. É pena!
    Gostei da Crónica Francisco.
    Aguardo próximas!

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  8. Um homem que admiro muito..pelo percurso de vida e pelos valores que defendia...não deixou de lutar pelo que a sua consciência dizia e não deixou de amparar que lhe pediu a mão...valores hoje totalmente postos de lado...o assumir a verdade e a responsabilidade é algo que só os "Grandes" conseguem, daí vermos tantos a tomar decisões e a fugir das culpas, pois não têm coragem de assumir as suas acções...ASM assumiu o que fez e regressou a Portugal, sabendo que pagaria pela sua "insubordinação", mas isto não demoveu-o do seu intuito...pagou o que fez, infelizmente, mas nunca negou a sua acção, nem se mostrou arrependido por ter salvo 30 000 pessoas...sim existem vários nomes de cônsules que conhecidos internacionalmente pelo apoio que deram aos refugiados do Holocausto, são meros desconhecidos no seu país de origem...enfim...continuamos a não dar valor ao que é nacional...

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  9. Não conhecia esta história mas é bom saber que existiam portugueses preocupados com os judeus e que ajudaram a salvá-los. Imagino como Salazar deve ter ficado ao saber que nao respeitaram uma ordem sua.Logo ele que não gostava de ser contrariado.
    Continua assim.

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  10. Parabéns por mais esta excelente crónica que desconhecia o seu conteúdo. Sem duvida que é de "Homens" destes que precisamos, com raça. A crise de que todos falam deve-se exactamente aos valores morais e sociais e muito menos à economia que no fundo foi apenas o meio que serviu para prostituir os valores e fazer desta sociedade nova uma sociedade gasta e medíocre nos seus princípios.

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  11. Não conhecia a história. Muito motivante, obrigado por partilhares. Muito bem escrita a crónica como habitualmente.

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  12. Outra boa crónica como sempre. Uma história de vida emocionante. Quando acabei de ler, fui logo fazer pesquisa sobre Aristides de Sousa Mendes e é pena não ter sabido mais cedo dele.
    «é preciso não esquecer o ensinamento que Aristides de Sousa Mendes nos deixou: devemos respeitar todos os povos, pois são todos seres humanos, não olhando a cores, raças, etnias, credos, etc… »

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  13. É bom ver que um dos objectivos desta crónica foi atingida, terem interesse na História de ASM e que fizessem pesquisa para saber mais...fico contente...msm quem não sabia quem ele era, ficou a conhecer a história de um dos maiores portugueses de smp...um homem culto, inteligente mas sobretudo honrado!
    sem dúvida que são os valores sociais que estão em crise...deixamos de respeitar o outro e isso não pode ser...temos de olhar para os nossos "irmãos" e saber tratá-los como iguais...como dizia uma campanha da Amnistia Internacional: "Descriminar não é humano"!

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  14. Infelizmente já há poucas pessoas como esse grande Senhor.
    Hoje em dia cada um quer olhar para o seu próprio umbigo e esquecem-se do próximo.
    Pessoalmente também admiro a coragem desse grande Senhor, pois desafiou tudo o todos para salvar 10 mil pessoas...

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  15. Grande Senhor de coração e alma grande, um exemplo a seguir por todos nós e em especial por alguns! Parabéns pela excelente crónica e por dar a conhecer, a quem ainda não conhece, este Senhor de uma coragem e personalidades absolutamente fantásticas!

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  16. Muito boa crónica. Obrigada pela homenagem a este grande homem.
    Se desejarem, visitem a página Facebook da Sousa Mendes Foundation nos Estados-Unidos, fundação criada por netos de Sousa Mendes e descendentes de pessoas que salvou.
    Poderão acompanhar o progresso da Fundação em encontrar mais familias salvas.

    https://www.facebook.com/sousamendesfoundation

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  17. Um grande homem, um grande português.
    Já não os ha assim, que colocam o bom senso acima e à frente de ordens e dos interesses.

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  18. Manuel António Mota Vieira10 de dezembro de 2012 às 03:27

    Interessante texto. Nunca é demais relembrar momentos edificantes da nossa História . A superioridade moral, a grandeza de alma, de Aristides Sousa Mendes em contra-ponto à mesquinhez do ditador Oliveira Salazar.

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  19. Já havia trocado algumas ideias ctg sobre Aristides de Sousa Mendes.... Homem de legado inegualável, reconhecido por qqr comunidade judaíca pelo mundo, desde Israel, EUA, passando pela Húngria, etc.... Mas q tem mto ainda a "legar" à nossa geração, q tão perdida anda, e distante dos valores da igualdade e democracia... e mto mais às gerações futuras, p se isentarem dos mesmos erros........

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  20. Felizmente chegou o dia para que temos muito trabalhado. Quanto à pressão 'estrangeira', a Sousa Mendes Foundation foi criada em 2010 por Portugueses, Luso-descendentes (netos de ASM) e Judeus (filhos e netos de sobreviventes) e tem sede nos EUA. Tenho muito orgulho em ter presidido a essa Fundação entre 2011 e 2012 e ter colocado pressão junto das entidades portuguesas e Fundação ASM em Portugal. A minha amiga Olivia Mattis preside atualmente à Sousa Mendes Foundation e esteve em Cabanas de Viriato hoje. Bem hajam todos os que participaram com um especial agradecimento ao jovem arquiteto Eric Moed.

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  21. Pena é que poucos saibam da sua história e de como salvou a vida de tanta gente! Foi um Grande Homem, cheio de coragem e altruísmo!

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  22. Manuel Jorge Enes Trindade10 de dezembro de 2013 às 04:53

    Salvou muita gente, apesar de desobedecer às ordens de Salazar !!!

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  23. Ás vezes é preciso ter muita força e determinação. Até quando se tem razão. Sem dúvida um grande homem, um dos grandes de Portugal e um cidadão do mundo!

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  24. Maria Jose Nogueira Ribeiro10 de dezembro de 2013 às 13:08

    Säo homens como este que fäzem fältä hoje em diä nä ONU porque este säbiä-os todos!

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  25. Ser humano maravilhoso

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