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Quem é Eduardo Lourenço?
O pensador Eduardo Lourenço, de 88 anos, vencedor do Prémio Pessoa 2011, é um homem consensual na sua heterodoxia, um «marginal consagrado, na permanente tentação do estudo da própria marginalidade», como o descreveu o escritor Mário Cláudio.
Embora residente em França desde os anos 1960, manteve sempre uma grande ligação a Portugal, nunca tendo deixado de se pronunciar sobre as grandes questões da sociedade portuguesa, bem como sobre os grandes problemas do nosso tempo, o que posiciona a sua filosofia como uma «metafísica da interrogação», como afirmou o professor Fernando Catroga, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Nascido a 23 de maio de 1923, em São Pedro de Rio Seco, no concelho de Almeida, distrito da Guarda, Eduardo Lourenço de Faria é o mais velho dos sete filhos de Abílio de Faria, oficial do Exército, e de Maria de Jesus Lourenço.
Depois de completar o ensino primário na sua terra natal e frequentar no Liceu da Guarda, terminou os estudos secundários no Colégio Militar, em Lisboa, e licenciou-se, em 1946, em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com uma dissertação intitulada 'O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto. Primeira Parte'.
Aí se tornou professor assistente, cargo que exerceu até 1953; depois, até 1958, foi Leitor de Língua e Cultura Portuguesas nas Universidades de Hamburgo, Heidelberg e Montpellier; e, em 1958 e 1959, regeu, na qualidade de professor convidado, a cadeira de Filosofia na Universidade Federal da Bahia, no Brasil.
No ano seguinte, fixou-se em França, como Leitor nas Universidades de Grenoble e Nice, a cargo do Governo francês, e nesta última instituição assumiria as funções de Maître-Assistant, cargo que desempenhou até à sua jubilação, no ano lectivo de 1988-89.
Em novembro de 1949, enquanto assistente em Coimbra, publicou, em edição de autor, o seu primeiro livro, 'Heterodoxia I'.
Casou-se em 1954 com Annie Salamon, em 1965 fixou residência em Vence e, um ano mais tarde, nasceu o seu filho adoptivo, Gil.
Depois de jubilado, assumiu, em 1989, funções de conselheiro cultural da embaixada de Portugal em Roma, até 1991.
Em Lisboa, ocupa, desde 1999, o cargo de administrador não-executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, instituição que começou agora a reeditar a sua obra completa, num total de 38 volumes de ensaios político-filosóficos escritos entre 1945 e 2010.
Condecorado a 10 de Junho de 1981 com a Ordem de Santiago da Espada, recebeu, em 1988, o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, pela obra 'Nós e a Europa ou As Duas Razões', e foi, nos últimos anos, agraciado com muitas distinções, das quais se destacam:
- Prémio Camões (1996)
- Oficial da Ordem de Mérito pelo Governo francês (1996)
- Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras pelo Governo francês (2000)
- Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora (2001)
- Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra (2001)
- Cavaleiro da Legião de Honra (2002)
- Prémio da Latinidade (2003)
- Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada (2003)
- Prémio Extremadura a la Creación (2006)
- Medalha de Mérito Cultural pelo Governo português (2008)
- Medalha de Ouro da Cidade da Guarda (2008)
- Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil pelo Rei de Espanha (2009).
Sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras desde 2006, ocupando a cadeira número 20, Eduardo Lourenço é também Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro (1995), Universidade de Coimbra (1996), Universidade Nova de Lisboa (1998) e Universidade de Bolonha (2006).
Excerto de:
O Labirinto da Saudade (Gradiva, 2005)
O Labirinto da Saudade (Gradiva, 2005)
(imagem retirada da internet)
“Que o português médio conhece mal a sua terra – inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio – é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do quecompreendê-la.”
“Citar um autor nacional, um contemporâneo, um amigo ou inimigo, porque nele se aprendeu ou nos revimos com entusiasmo, é, entre nós, uma raridade ou uma excentricidade como usar capote alentejano. A referência nobre é a estrangeira por mais banal que seja, e quem se poderá considerar isento de um reflexo que é, por assim dizer, nacional?”
“Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo.”
“Mas seja qual for a interpretação ideológica de Camões, não é possível, para ninguém, separar o seu canto épico da apologia histórica de um povo enquanto vanguarda de uma fé ameaçada na Europa do tempo e de um império igualmente guarda-avançada da expressão comercial e guerreira do Ocidente. É essa a «matéria» textual e moral do Poema.”
“Em princípio, todo o português que sabe ler e escrever se acha apto para tudo, e o que é mais espantoso é que ninguém se espante com isso.”
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